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Estátua de Skanderbeu, a maior figura
da História nacional da Albânia |
Durante a ocupação Romana dos Balcãs, após a conquista da Iliria no ano 168 a.c., a actual
Pristinë era parte da província da Dardania. As tribos eslavas chegaram à cidade no século VI mas o nome
Pristinë foi citado pela primeira vez em 1342 ao ser descrita como uma aldeia pelo Imperador Bizantino João VI. Todavia no decorrer dos séculos XIV e XV
Pristinë desenvolveu-se como um importante centro mineiro e também comercial muito em parte devido à sua posição central na rota comercial dos Balcãs. No final da Idade Média a cidade começou a tornar-se famosa devido ao trabalho dos seus artesãos, quer em peles, quer também em metal, principalmente no fabrico de armaduras e armas.
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A Grande Mesquita de Prishtine |
Com a conquista Otomana dos Balcãs o Islão começou naturalmente a ser muito difundido na cidade, apesar da primeira mesquita de
Pristinë datar ainda do final do século XIV. A nova religião proliferava quase apenas nos meios urbanos e por isso expandiu-se proporcionalmente com a urbanização do território durante a ocupação Otomana. Integrada no
Sanjak, ou província, de Viçitirin, a população da cidade gozou de um período de grande estabilidade e de alguma prosperidade de acordo com as leis económicas do Império Otomano, ao mesmo tempo que o Islão passou a ser a religião de quase todos os habitantes da cidade.
No século XVII, durante a Guerra entre o Império Austro-Húngaro e o Império Otomano a população da cidade, liderada pelo padre católico Albanês e Bispo de
Shkoder Pjeter Bogdani, ficou do lado dos Austríacos, que ocupariam a cidade pouco depois após a retirada dos Otomanos. Porém os Austríacos acabaram derrotados em 1690 e retiraram as suas tropas da cidade deixando toda a população à mercê das tropas Otomanas.
Casa tipicamente Otomana no centro de Prishtine (esq) Centro do Bazar turco de Prishtine (dta)
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Pormenor da Mesquita de Jashar Pasha |
Em 1874 quando o Império Otomano entrava já em declínio acentuado a cidade, devido a passar a estar incluída no traçado da linha férrea em construção entre
Mitrovica e
Tessalónica, foi promovida a sede de província em troca com a cidade de
Prizren. No entanto esta situação privilegiada não duraria muito visto que em 1912, aproveitando-se do declínio do Império Otomano, as forças rebeldes albaneses asseguraram o controlo da cidade. Porém, ao conquistar a cidade de Prishtinë, no dia 22 de Outubro de 1912, o Reino da Sérvia impediu o plano da Grande Albânia e fez com que o território dos Balcãs conquistado aos Otomanos fosse dividido entre si e os três recém-independentes Estados dos Balcãs - Grécia, Bulgária, Montenegro. Mas em 1915, em plena I Guerra Mundial, a Bulgária, insatisfeita pelos territórios que lhe tinham sido atribuídos aquando da I Guerra dos Balcãs, conquistou a cidade de Prishtinë bem como toda a região do Kosovo. Assim a cidade ficou sob domínio Búlgaro até 1918 quando foi capturada pelas tropas francesas que a concedeu posteriormente à Jugoslávia no final da I Grande Guerra.
Complexo do mosteiro de Gracanica (esq) Igreja do Mosteiro de Gracanica (dta)
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A torre do relógio Otomana |
Desde 1920 até ao inicio da II Guerra Mundial assistiu-se à colonização das terras do sul do Kosovo, por parte de população Sérvia, facto que levou a que as populações albanesa e turca fossem forçadas a deixar a região. No entanto assistiu-se à situação inversa a partir de Abril de 1941 quando a Jugoslávia cedeu finalmente às Forças do Eixo, facto que levou a que pouco tempo depois Mussolini juntasse o território do Kosovo ao da Albânia já sob ocupação italiana. A partir deste momento registaram-se massacres sob os colonos Sérvios que foram assim forçados a abandonar a região. Ainda antes do final da II Guerra Mundial após a capitulação da Itália Fascista Prishtinë foi temporariamente ocupada pela Alemanha Nazi que deportou a comunidade Judaica, conduzindo também ao êxodo de grande parte da população da cidade, levando a que esta descesse a cerca de 10 mil pessoas.
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A construção da Catedral
Sérvia nunca foi terminada |
A cidade reergueu-se da destruição causada pela II Guerra Mundial após a integração do Kosovo na Jugoslávia, principalmente a partir do momento em que o governo Comunista a escolheu como capital do Kosovo em 1947. Durante o esforço de reconstrução levado a cabo pelos Comunistas foram destruídas bastantes heranças da presença Otomana na cidade como várias mesquitas, o bazar, bem como várias casas Otomanas. Porém com todo o investimento da Jugoslávia na nova capital do Kosovo a sua economia bem como a população, que passo para o dobrou entre 1971 e 1981, mudaram rapidamente. Só o colapso financeiro e económico da Jugoslávia, a que se juntaram as revoltas dos estudantes em 1981, levaram a que Prishtinë, bem como todo o território do Kosovo, mergulhasse numa crise económica e social que incrementaram o desejo nacionalista da população albanesa causando directamente o aumento exponencial do nacionalismo Sérvio, que levou a que em 1989, já durante a presidência de Slobodan Milosevic, fossem impostas medidas que visavam reduzir a autonomia do Kosovo bem como afastar os cidadãos albaneses de todos os cargos ligados ao Estado.
Fotografias de várias ruas no centro da cidade de Prishtine (ambas as fotos)
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Estátua da religiosa albanesa
Madre Teresa de Calcutá |
Em 1996 começaram os ataques às forças Sérvias por parte do Exército de Libertação do Kosovo, porém estas acções não tiveram repercussão em Prishtinë até ao eclodir da Guerra, em Março de 1999. Apesar de não ter sido tão afectada como as cidades de
Pec e
Dakovica, que sofreram inúmeras baixas entre a população civil e saíram praticamente destruídas pelos bombardeamentos sérvios, Prishtinë devido à sua importância estratégica foi poupada apesar de alguns alvos militares atingidos pela NATO nos arredores da cidade. Porém a população da cidade viveu dias de grande violência com as forças Sérvias a cercarem diversos bairros onde procederam à deportação em larga escala de cidadãos Albaneses, para a fronteira da República da Macedónia, onde eram forçados ao exílio. Grande parte da população Albanesa optou por deixar o Kosovo de livre vontade para não sofrer às mãos das tropas Sérvias.
Cartazes às portas das instalações do governo com fotos de desaparecidos durante a Guerra do Kosovo (ambas as fotos)
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Polícia Italiana a patrulhar as ruas de Prishtina |
As primeiras tropas da NATO entraram em Prishtinë ainda em 1999, apesar de ironicamente terem sido as tropas Russas as primeiras a aterrar no aeroporto da cidade que a partir deste momento se transformou na sede da administração das Nações Unidas - UNMIK, passando a beneficiar muito da grande quantidade de pessoal internacional e fundos públicos e privados, muitos eram patrocinados pela grande Diáspora albanesa no mundo, que ali passaram a ser investidos. Este
boom económico visível por exemplo na construção de inúmeros restaurantes e hotéis, cujo público alvo eram os expatriados a residir na cidade, foi o inicio de uma nova era numa cidade nova, Prishtinë, e num país ainda mais novo, o Kosovo.
Diário de Viagem
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Estátua de Bil Clinton |
A primeira vez que visitei Prishtinë foi em 2010 e vi uma cidade orgulhosa da independência do país de que é capital. Tratava-se porém de uma cidade pobre e em reconstrução e com muito poucas ruas asfaltadas. Mas ao voltar à cidade por diversas vezes quer em 2011 quer em 2012 vi uma cidade um pouco diferente, com mais ruas asfaltadas, com mais organização e limpeza, e com muito menos pobreza.
A principal artéria de Prishtinë é a bulevardi Nene Tereza que nos leva, no sentido norte, à também importante rua Agim Ramadani, já bem próxima dos edifícios do governo, onde à porta a população tem colocado fotografias de pessoas ainda desaparecidas desde a Guerra do Kosovo, e no sentido sul, à bulevardi Bill Klinton em direcção à estação de autocarros bem como ao aeroporto.
Cartaz de Ibrahim Rugova, primeiro presidente do Kosovo (esq) Teatro Nacional do Kosovo (dta)
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Edifício do Museu Nacional do Kosovo |
Os principais pontos a visitar na cidade encontram-se todos na área do bazar turco, como a Grande Mesquita, ou Mesquita do Sultão Mehmet Fatih, que construída em 1461 é a principal herança do legado do Império Otomano na cidade. Esta mesquita chegou a ser convertida numa igreja católica durante a ocupação austro-húngara da cidade. Na mesma área podemos encontrar outros monumentos Otomanos como a Mesquita Jashar Pasha, a Torre do Relógio, bem como o Grande Haman ou Banho Turco. Existem ainda na área do Bazar dois edifícios que convém visitar. O primeiro é o Museu do Kosovo, situado num edifício de estilo arquitectónico marcadamente austro-húngaro, construído durante a ocupação da cidade por este Império, e o segundo é a Academia de Ciências e Arte situada num edifício de estilo marcadamente balcânico.
Três minaretes saltam à vista no meio do transito de Prishtina (esq) Bancas de frutas no bazar da cidade (dta)
Bem no centro da cidade encontra-se o Grand Hotel, o único que sobreviveu à Guerra do Kosovo, apesar de existiram já melhores hotéis na cidade, continua a ser um marco de Prishtinë, usado pelos locais como local de encontro, até pela sua localização central. Também aconselho visitar o edifício da Biblioteca Nacional cuja construção foi concluída em 1982 segundo o original e algo arrojado projecto do arquitecto croata Andrija Mutnjakovic.
Edificio do emblemático Grand Hotel de Prishtine (esq) Edificio da Biblioteca Nacional do Kosovo (dta)
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Igreja do mosteiro de Gracanica |
O local que mais gostei de visitar durante as minhas visitas a Prishtinë chama-se Gracanica, e encontra-se curiosamente já fora dos limites da cidade, a cerca de 10 quilómetros a sul do rio Ibar, que cruza a cidade embora esteja actualmente coberto. Gracanica é um pequeno enclave Sérvio construído em redor do histórico mosteiro como mesmo nome, que construído em 1321 pelo Rei Sérvio Milutino é um dos principais monumentos da Ortodoxia da Sérvia. Chegar ao local implica apanhar o autocarro em Prishtinë com destino a Gjilan, através da estrada para
Skopje, pedindo ao motorista que nos deixe em Gracanica, que fica mais ou menos a meio caminho, ao que este pode, ou não, aceder, visto que frequentemente autocarros albaneses são apedrejados pelos sérvios aquando da sua paragem no enclave.
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Interior da Igreja de Gracanica |
No meu caso, tendo visitado o local por duas vezes, não tive qualquer problema sendo que no caminho de regresso tive sempre de fazer cerca de 1 quilómetro a pé visto os autocarros com destino a Prishtinë não pararem dentro do enclave com cerca de dez quilómetros quadrados onde se situam 15 pequenas aldeias. Chegando ao mosteiro é necessário mostrar o passaporte aos soldados da KFOR que patrulham o monumento antes de poder entrar no seu interior de rara beleza, tanto a igreja como todo o complexo do mosteiro em redor onde habitam as freiras Ortodoxas Sérvias. No exterior existe uma pequena loja onde podemos adquirir itens religiosos como o "Kosovo Cruxificado" cuja imagem mostra locais sagrados sérvios danificados ou destruídos durante conflitos.
Complexo do Mosteiro de Gracanica onde residem as religiosas Ortodoxas Sérvias (ambas as fotos)
A atmosfera positiva e energética que se vive em Prishtinë é oposta em Gracanica um local que a Guerra do Kosovo transformou num enclave de tristeza e isolamento. Hoje vivem isolados em Gracanica cerca de 11 mil Sérvios, a maior parte deles refugiados oriundos de Prishtinë, rodeados de cartazes de propaganda política Sérvia, bancos internacionais que operam em moeda Sérvia, uma escola primária reconstruida após a guerra, uma esquadra de polícia que emprega staff albanês e internacional que não fala a língua Sérvia, um centro de saúde, bem como quintas de produção agrícola que servem uma população maioritariamente rural.
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Bandeira Albanesa no
cento de Prishtina |
O facto do enclave ser visto ainda hoje como uma ameaça pelos nacionalistas Albaneses significa que apesar da estabilidade e aparente prosperidade da capital Prishtinë, onde existe uma vibrante
nightlife bem como uma imensidão de restaurantes e cafés de luxo destinadas à clientela expatriada bem como à classe alta albanesa, as tensões étnicas e sociais não estão ainda bem resolvidas no Kosovo principalmente no que concerne à gestão da situação dos cidadãos Sérvios que permanecem no território isolados em pequenos enclaves. Numa tentativa de lidar com a situação o governo do país declarou o enclave de Gracanica bem como o de
Mitrovica como municípios em 2008, e, apesar de esta medida não ter sido reconhecida pelo Governo da Sérvia que continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território, os cidadãos de Gracanica foram às urnas e elegeram o seu autarca. Do lado Sérvio o governo nacional continua a investir e a prometer mais investimento para cada um dos enclaves que considera parte do seu território e como tal são ali montadas mesas de voto durante as eleições da Sérvia.
Bandeiras Sérvias no enclave de Gracanica (esq) Cartazes de propaganda anti-EU em Gracanica (dta)
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Monumento Newborn em honra à
independência do Kosovo |
Caso nos interessemos por política ou geografia política europeia vale bastante a pena visitar Prishtinë, uma cidade que tenta trilhar o seu caminho apontado pela independência de uma nação jovem que se identifica em tudo com os valores da vizinha Albânia de onde são originários mais de 90% dos seus habitantes que vivem lado a lado com uma vasta comunidade internacional que impediu, e em certos pontos do país continua a impedir, uma ainda pior situação para a já pouca população Sérvia que continua a residir no território embora confinada a pequenos espaços e pouca liberdade.
Como Chegar
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Alfandega da fronteira Kosovo - Macedónia |
Embora a linha férrea do Kosovo esteja ainda desactivada devido aos danos sofridos durante a guerra que assolou o país, Prishtinë está ligada por estrada a todas as capitais dos Balcãs. É possível viajar de autocarro até Prishtinë desde
Skopje,
Belgrado,
Podgorica, e
Tirana, capitais da República da Macedónia, Sérvia, Montenegro e Albânia, respectivamente. Para entrar no território do Kosovo sem visto é preciso estar na posse de um passaporte válido pertencente a um dos Estados-membro da União Europeia. Não é válido o bilhete de identidade, ao contrário dos outros países dos Balcãs.
Muito interessante o seu relato sobre o enclave sérvio de Gracanica. A cidade de Pristina não me parece muito interessante para se visitar, mas Gracanica eu gostaria de conhecer.
ReplyDeleteSe a vida dos habitantes do enclave é complicada agora, o dia em que a Servia conceder plena independência ao Kosovo, a situação dessas 11 mil pessoas ficará ainda mais difícil. Imagino que eles acabarão imigrando para a Sérvia.