Monday, September 9, 2013

Tessalónica - Θεσσαλονίκη

A Torre Branca é talvez o monumento mais icónico da cidade de Tessalónica


A cidade foi fundada cerca de 315 a.c. pelo Rei Cassandro da Macedónia em honra da sua mulher a Rainha Tessalónia, meia-irmã de Alexandre, o Grande e tornou-se depois a cidade mais importante de todo o Reino da Macedónia. Cidade de castelos, torres, velhas ruínas e catacumbas e um verdadeiro museu ao ar livre de arte Bizantina, Tessalónica é nos dias de hoje a segunda maior cidade da Grécia depois da capital Atenas, bem como a mais importante cidade da região da Macedónia.



História

Após a queda do Reino da Macedónia, em 168 a.c., a cidade tornou-se uma cidade livre no seio de uma República Romana durante o reinado do Imperador Marco António em 41 a.c. convertendo-se num importante pólo comercial da rota da Via Egnatia, a estrada que ligava Dyrrachium, actual Durres, com Bizancio, actual Istambul.

O Arco de Galerius data do século IV (esq) Muralhas do castelo de Tessalónica - sec IV (dta)
Eptapyrgio, erguido na Acrópole
Com a queda de Roma em 476 Tessalónica tornou-se na segunda maior cidade do Império Bizantino e num importante centro de difusão do Cristianismo, o Primeiro Epistolo aos Tessalónicos escrito pelo Apóstolo Paulo foi o primeiro livro do Novo Testamento.
Desde os primeiros dias do Império Bizantino a cidade de Tessalónica foi considerada a segunda cidade do império depois de Constantinopla quer em termos de riqueza quer em termos de tamanho.
A cidade manteve este estatuto até ter sido transferida para a autoridade de Veneza em 1423.
No século IX os missionários gregos Bizantinos Ciril e Metódio, ambos nascidos na cidade, criaram o primeiro alfabeto eslavo, baseado nas línguas que se falam nos arredores da cidade após as invasões eslavas no século anterior. Tessalónica deixou de estar sob controlo Bizantino em 1204 ano em que Constantinopla foi capturada pela Quarta Cruzada e incorporada no Reino de Tessalónica, um reino aliado do Despotado do Epiro, um das três facções originadas na sequência da queda do Império Bizantino, do qual acabou por se tornar capital durante o período em que ficou conhecido como Império de Tessalónica. 

                       Panorama sobre o mar visto desde o Eptapyrgio (esq) Interior das catacumbas de Agios Ioannis Prodromos (esq)

Interior da Rotunda de Galerius
Em 1423 a cidade foi cedida à República de Veneza na tentativa de assegurar a protecção face aos Otomanos que estavam em vias de cercar a cidade. Os Venezianos conseguiram controlar a cidade até esta ter sido capturada pelos Otomanos, em 1430, na sequência de uma acção brutal de pilhagem que resultou na fuga de muitos habitantes. Porém a passagem de Tessalónica para domínio Otomano não afectou o grande prestigio da cidade como importante pólo comercial no Império Otomano em termos de industria de navegação embora esta fosse controlada por cidadãos gregos. Durante o período Otomano as populações judaicas e muçulmanas cresceram no Sanjak de Selanik, cuja capital era Tessalónica, facto bastante impulsionado pela vontade dos Otomanos em prevenirem-se das ambições dos cidadãos gregos em controlar a cidade. Em 1500 a população da cidade cifrava-se em cerca de 8 mil Gregos, 8500 Muçulmanos e cerca de 4 mil Judeus. Nas últimas décadas sob domínio Otomano, principalmente em meados do século XX, Tessalónica tornou-se num centro de actividades subversivas levadas a cabo por vários grupos radicais e anarquistas que colocaram bombas em vários edifícios da cidade incluindo o Banco Otomano.

                       O bairro que sobe até à antiga Acrópole e ao Eptapyrgio era chamado durante a ocupação Otomana de Yedi Kule

As muralhas Otomanas da cidade
Com o eclodir da I Guerra dos Balcãs a Grécia declarou guerra ao Império Otomano e expandiu as suas fronteiras, facto que ficou a dever-se bastante à acção do Primeiro Ministro Eleftherios Venizelos ao optar por mandae avançar o exército para Tessalónica em detrimento da cidade de Monastir, actual Bitola, na República da Macedónia. Em 1912 os Otomanos renderam-se aos Gregos, apesar dos Búlgaros também reivindicarem a cidade. Depois da II Guerra dos Balcãs a cidade de Tessalónica bem como resto das regiões gregas na Macedónia  foram oficialmente anexadas pela Grécia através do Tratado de Bucareste assinado em 1913. 
Na I Guerra Mundial os Aliados fundaram uma base na cidade o que deu origem à Frente da Macedónia local a partir de onde os Gregos com o apoio dos Aliados lançaram o Movimento de Defesa Nacional, liderado por um governo temporário pro-aliado chamado Estado de Tessalónica, que encetou uma acção de conquista de novos territórios anexados pela Grécia durante as Guerras dos Balcãs, a maior parte na Macedónia e no Norte da Grécia mas também no Norte do Egeu, como a Ilha de Creta. 
                                            Interior da Igreja de Agia Sofia, séc VIII (esq) Interior da Igreja de São João Baptista  (dta)

Pequena embarcação ancorada na costa
Em 1917 na sequência da abdicação do Rei Constantino do Estado de Atenas, o Estado de Tessalónica foi desmantelado e os dois governos opositores acederam a juntar-se sob autoridade de Venizelos criando uma Grécia unida. Após a derrota da Grécia na Guerra Greco-Turca e na sequência do desmembrar do Império Otomano foram levadas a cabo trocas de população entre a Grécia e a Turquia. Mais de 160 mil Gregos foram deportados de várias partes do território do antigo Império Otomano e acolhidos na cidade que deportou simultaneamente cerca de 20 mil muçulmanos para a Turquia. 
A Torre Branca é o maior ícone da cidade
Na II Guerra Mundial Tessalónica foi fustigada por bombardeamentos da Itália Fascista e anexada pela Alemanha Nazi em 1941 e apenas foi libertada pelas tropas Gregas em 1944. A cidade foi a última a ceder ás forças da Alemanha Nazi, e o palco do nascimento do primeiro grupo de resistência Grega com o nome Ελευθερία, liberdade, e também foi aqui que se publicou o primeiro jornal anti-Nazi emitido num território sob ocupação Alemã. Todavia, apesar da destruição causada pela II Guerra Mundial, muitos dos tesouros da cidade subsistiram, e após as obras de reconstrução Tessalónica voltou a ser um dos principais pólos industriais dos Balcãs nas década de 1950.



Diário de Viagem


Vista desde a antiga Acrópole da cidade
Visitei a cidade de Tessalónica em Maio de 2012 oriundo da capital Atenas. Trata-se de uma cidade costeira construída sobre várias colinas, e que, por misturar o carácter de uma moderna metrópole com o carácter histórico e cosmopolita transforma-se numa cidade algo especial e com alguns pontos em comum com Lisboa. Foi uma das cidades mais importantes do mundo antigo e o centro do Antigo Reino da Macedónia, na época em que viveu uma das figuras históricas mais conhecidas, Alexandre o Grande. Dessa época existem ainda muitos vestígios no fantástico museu arqueológico da cidade inaugurado em 1962, onde se pode viajar pela história da antiga Macedónia através de artefactos que remontam ao século IV a.c.. Sem dúvida um dos mais impressionantes museus arqueológicos que tive oportunidade de visitar durante as minhas viagens na Grécia.
O Minarete da Rotunda
Por toda a cidade estão espalhados sítios arqueológicos como por exemplo o antigo fórum, ou ágora, com as suas praças e pórticos, que datam do século II. Existem ainda ruínas das antigas termas e do hipódromo, bem como de vários templos. Porém o que mais apreciei visitar foi o complexo do antigo palácio do Imperador Romano Galério Maximinano, cuja construção remonta ao século IV. Neste complexo é possível observar o Arco do Triunfo erguido no ano de 305 para comemorar os sucessos militares Romanos principalmente nas províncias do Leste do Império, bem como a Rotunda de Agios Georgios, ou São Jorge, construída com o propósito de servir como Mausoléu de Galério Maximiliano, e hoje um dos mais imponentes monumentos da cidade. O templo passou depois a ser uma igreja durante mais de 1000 anos até ser convertido numa mesquita durante a ocupação Otomana de Tessalónica, como atesta a existência do Minarete anexado ao edifício, construído durante essa época.
Umas das mais antigas entradas da cidade
Durante a sua presença na cidade os Otomanos recuperaram muitos dos monumentos no seio da mesma como o castelo e as muralhas, que construídas em tempos remotos com o objectivo de fortificar a cidade, embora a sua construção final date já da era de Teodósio o Grande, encontravam-se já num avançado estado de deterioração. No complexo da Acrópole, erguida em tempos imemoriais, talvez com o objectivo de albergar os habitantes da cidade em caso de invasões inimigas, hoje podemos encontrar o Eptapyrgio, uma fortaleza cuja construção data do século XIV e que conta ainda hoje com sete torres. Este monumento foi também foi remodelado e reconstruido pelos Otomanos após a tomada da cidade em 1430 passando a chamar-se Yedi Kule e a ser utilizado como prisão. Também durante a ocupação Otomana foram construídos monumentos como as mesquitas de Hamza Bey Cami, Aladja Imaret Cami e Yeni Cami, bem como o Bezesteni, um edifício que hoje funciona como um mercado de roupa.
A Torre Branca situa-se na baixa da cidade
Construída durante a ocupação Otomana sobre as ruínas de uma antiga torre bizantina na antiga praia de Tessalónica, a Torre Branca é talvez a maior marca da cidade. Ao longo da sua história o monumento foi conhecido primeiramente por Torre dos Leões, e durante a ocupação Otomana era intitulado Torre do Sangue, devido ao sangue derramado pelos condenados à morte que ali eram torturados pelos Otomanos. Foi encerrada em 1878 para que fossem efectuadas obras de restauro que incluíram a "lavagem" da pedra do monumento, que hoje lhe vale o nome de Torre Branca. Actualmente os seus seis pisos estão abertos ao público albergando uma exposição de artefactos cristãos, que datam de entre o ano 300 e 1430, maioritariamente oriundos da cidade.

                                      A marginal de Tessalónica é um dos locais mais frequentados pelos habitantes da cidade (ambas as fotos)

Após a visita da Torre Branca pode percorrer-se a marginal da cidade que conta com inúmeros restaurantes, cafés e bares onde se pode degustar algumas iguarias da gastronomia local. Ao olhar na direcção da linha do horizonte é possível avisar-se o Monte Olimpo, o lar dos Deuses da Mitologia Grega, cujos quase três mil metros se erguem a cerca de cem quilómetros de distancia de Tessalónica, no outro lado da Tessália.
Interior da Igreja de São João Baptista
Outras grandes atracções da cidade são sem dúvida os seus inúmeros monumentos de arte Bizantina, sendo esta chamada por vezes de um museu ao ar livre deste tipo de arte. Além do museu da cultura Bizantina, um dos mais importantes museus de toda a Grécia, templos como a pequena Igreja de Panaghia Chalkeon construida em 1028, bem como as Igrejas de Acheiropoietos, Santa Sofia, São Panteleimon, Agios Ioannis Prodromos, que datam de séculos V, VII, XII e XIII respectivamente, são também verdadeiros cultos à arte Bizantina que devem ser visitados.

                           Os Cristaos Ortodoxos visitam a cripta onde tomam a Agiasma, ou Água Santa, que os previne de todos os males (todas as fotos)

A cripta da Igreja de Agios Dimitris é a mais famosa mas visitei também a cripta da Igreja de São João Baptista escavada sob o solo da pequena igreja com o mesmo nome, situada bem próxima da monumental Igreja de Santa Sofia, bem no centro da zona histórica da cidade. Pensa-se que estas catacumbas tenham sido escavadas para a construção de um antigo templo pagão que ao ser descoberto pelos Cristãos, foi por estes aproveitado para que se escondessem dos Romanos que os perseguiam continuando assim a prestar o culto a Deus. Com o final da perseguição dos Romanos ao Cristãos, foi erguida, por estes últimos, nestas catacumbas, um baptistério que se crê ter sido o local de baptismo de Teodósio, o Grande, aquando da passagem deste pela cidade. Hoje esta pequena igreja é visitada por centenas pessoas duas vezes por ano, no dia do nascimento de São João Baptista bem como no dia da sua morte por decapitação.

                   Os dois edifícios mais emblemáticos da Praça Aristóteles sao o Olympion e o Electra, construídos nos anos 50 e 60 respectivamente

A Praça Aristóteles é a única parte da cidade onde foi implementado o plano arquitectónico do Francês Ernest Hébrard elaborado após os terríveis incêndios que assolaram a cidade em 1917 deixando desalojadas mais de 70 mil pessoas. Porém devido a fortes interesses de privados o plano de reconstrução da cidade não foi avante daí a Praça Aristóteles ser o único exemplo na cidade da combinação dos estilos arquitectónicos Bizantino e Europeu Ocidental. Hoje em dia, a Praça de Aristóteles é uma praça como qualquer outra de uma grande cidade europeia, recheada de lojas, bancos, cafés, restaurantes e hotéis,
Rua do bairro de Ladadika
A cidade de Tessalónica não tem porém um estilo de arquitectura definido já que nos deparamos com exemplos de arquitectura Bizantina conjugados com edifícios Otomanos, edifícios Neo-Clássicos do século XVIII, como os da Avenida Vasilissis Olgas, e também vários tipos de construções humildes erguidas pelos refugiados que chegaram à cidade na sequência das trocas populacionais operadas na zona da Ásia Menor entre os Estados recém-independentes da Turquia e da Grécia.
Outra grande atracção da cidade são os seus mercados tradicionais como o de Kapani, Vlalis, e principalmente o Mercado de Modiano que se situa no interior de um edifício de 1922 com um telhado de vidro.


Como Chegar
Rua da parte alta da cidade de Tessalónica

Desde 1888 ligada por caminho-de-ferro à Europa Central via Belgrado e ao Oriente via Istambul, desde 1896, a cidade de Tessalónica é hoje ainda de mais fácil acesso do que Atenas. De comboio há viagens directas para Sófia, além de Belgrado. Existe também uma rede de autocarros com destino a diversas cidades da Grécia e dos Balcãs bem como alguns destinos da Europa Ocidental. Existe também um aeroporto internacional em Tessalónica de onde operam voos algumas companhias aéreas lowcost.

1 comment:

  1. Quanto eu acho que você já falou sobre todas as cidades importantes dos Bálcãs que você visitou, me deparo com esse novo post. Tessalônica parece uma cidade simpática, mas se um grande interesse ou potencial turístico. Quero ver um post sobre as belas ilhas gregas, hehe...

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