Thursday, June 21, 2012

República da Albânia - Republika e Shqipërisë


 


A Albânia de hoje descende da antiga Ilíria, uma região ocupada por tribos divididas em Cidades-Estado, até à chegada dos Gregos à região no século VIIac.
Os gregos estabeleceram colónias em Epidamos (hoje Durrës), Apollonia e Butrint (cujas ruínas podem ser visitadas) vivendo sem conflitos de maior com os Ilirios, que no entanto acabariam por entrar em conflito com os Romanos, originado uma guerra sem precedentes na região, que resultaria  na captura do Rei Genti na Fortaleza de Rosafa na cidade de Shkodra e na consequente anexação da actual Albânia por parte do Império Romano. Os vários séculos de domínio Romano não impediram, no entanto, os Ilírios de preservar a sua língua e cultura.
Mapa da Albânia
O maior obstáculo à preservação da língua e tradições Ilírias foi a divisão do Império Romano no ano 395dc, aquando a região acabaria sob controlo do Império Bizantino de Constantino que pouco a pouco fez com que os Ilírios trocassem os seus Deuses pelo monoteísmo Cristão (Os imperadores Bizantinos Anastasius I, Justino I e Justiniano I tinham origens Ilírias), no entanto durante este período e até ao século V e VI registaram-se ainda invasões de vários povos à região - Visigodos, Hunos, Ostrogodos, e Eslavos - que puseram em perigo a sobrevivência da cultura Ilíria. Contudo a língua Ilíria acabaria por sobreviver nas montanhas do norte da Albânia, Kosovo e Montenegro.
No ano de 1344 a Albânia seria anexada pela Sérvia, contudo a derrota dos Sérvios face aos Turcos no ano de 1389 viabilizou o controlo da região por parte dos Turcos Otomanos. O domínio Otomano da região permitiu que os venezianos se mantivessem em algumas cidades costeiras - Durrës e Butrint. 
O período entre 1443 e 1468 pode ser considerado como o período de construção da futura Nação albanesa. Gjergj Kastrioti Skanderbeu, um chefe tribal Ilírio reuniu todos os chefes tribais Ilírios convencendo-os a lutar contra os Turcos. Sob liderança de Skanderbeu a partir do seu castelo na cidade de Krujë os turcos foram derrotados por 25 vezes (O Sultão Mehmed-Fathi, conquistador de Constantinópola, foi também ele derrotado por Skanderbeu). Os Turcos Otomanos conseguiriam apenas derrotar a resistência e anexar a cidade de Krujë no ano de 1479, 26 anos após a conquista de Constantinópola, e 11 anos após a morte de Skanderbeu. Este facto leva, ainda hoje em dia, a que muitos albaneses considerem que a estóica resistência de Skanderbeu face aos turcos tenho sido a chave para que os Otomanos não tenham conseguido subjugar ao seu domínio outras partes da Europa.
Cidades Históricas de Gjirokastër e Berat
Os Otomanos estabeleceram-se na Albânia, onde permaneceriam até 1919, contribuindo para o desenvolvimento do país construindo castelos, aquedutos, pontes, e obviamente mesquitas (as cidades bem preservadas de Berat e Gjirojastër, ambas património mundial da UNESCO, são exemplos únicos de cidades Otomanas na Europa). O mais conhecido entre os governadores Otomanos que governaram a Albânia é Ali Pasha de Tepelene, Governador de Ioaninna - uma das maiores regiões de todo o Império Otomano. Durante o seu "mandato", Ali Pasha acabaria por afastar os interesses de Franceses, Russos, Venezianos, e até Otomanos na região. Até que as suas ambições "independentistas" puseram em causa o domínio Otomano da região, facto que fez com que Ali Pasha acabasse executado por agentes Otomanos em 1822, sendo a sua cabeça enviada para Istambul.
Durante este período os chefes tribais albaneses continuavam a exercer as actividades que sempre tinham exercido, sendo a única excepção o pagamento de impostos para o tesouro imperial Otomano. No entanto, para contornar o pagamento de impostos, muitos albaneses optaram voluntariamente por converter-se ao Islão, facto com que resultou com que 50% dos Albaneses se tivessem convertido ao Islão durante o domínio Otomano.
Em 1878 na cidade de Prizren (actual Kosovo) foi criada a Liga Albanesa, que constituiu o início da luta pela autonomia. Esta associação de nacionalistas albaneses, não conseguindo afirmar-se a nível militar, tinha no campo cultural a sua maior força, sendo por isso conhecida como Rilindja Kombetare - Renascimento Nacional, ou simplesmente como movimento de grandes poetas e escritores. Os líderes do movimento rapidamente se aperceberam que o principal factor que poderia contribuir decisivamente para uma verdadeira união entre albaneses seria uma escrita comum da língua albanesa (A escrita da língua albanesa até então dependia da fé e das opiniões do escritor, indo do alfabeto Árabe, até ao Grego e Latino). Assim, em 1909 durante uma conferência de intelectuais e escritores ficou acordado que seria o alfabeto latino que passaria a ser utilizado futuramente para a escrita da língua albanesa.

Qemali proclama independência em Vlorë
Ao sucesso no campo cultural juntou-se o sucesso no campo militar, já que após inúmeras revoltas entre 1910 e 1912 os albaneses acabariam, em 1912, por proclamar a independência e formar um governo provisório liderado por Ismail Qemali, sediado em Vlorë. No entanto, as ambições da recém-independente Albânia acabaram por ficar seriamente comprometidas, em 1913, com a cedência do Kosovo, cerca de um terço da Albânia, à Sérvia.
Com o eclodir da I Guerra Mundial, a Albânia acabaria por ser ocupada por vários exércitos, desde o exército da Grécia, Sérvia, França, Itália, até ao exército do Império Austro-húngaro, tendo o país sofrido inúmeros danos a vários níveis. Apenas dois anos após o final da I Guerra Mundial o país recomeçou a navegar na rota da independência, sendo nomeado um Governo sob chefia de Fan Noli, um padre Ortodoxo que optou por mudar a capital do país, da cidade costeira de Durrës para a cidade de Tirana, uma cidade interior e por isso considerada menos vulnerável.

Zog I da Albânia
Em 1924 houve um golpe de Estado comandado pelo Ministro do Interior Ahmed Bey Zogu, que se declararia Zogu I, o primeiro Rei da Albânia, em 1928.  Zogu reforçou os laços do país com a Itália que cooperou extensivamente no desenvolvimento deste, principalmente da nova capital Tirana, uma pequena cidade interior, cujos italianos ajudaram a converter numa verdadeira capital. Durante a era de Zogu I verificaram-se grandes progressos, sendo criadas muitas escolas à medida que as quase inexistentes infraestruturas iam sendo renovadas e novas iam sendo construídas. No entanto, à medida que as dívidas contraídas face a Itália iam aumentando, os conselheiros italianos foram se instalando em outras partes do país, tomando um controlo activo do mesmo, tornado-se a Albânia de facto numa colónia italiana após a grande depressão de 1929 que deixaria as finanças do país arrasadas e consequentemente à mercê de Itália. Mussolini ordenou uma invasão da Albânia no ano de 1939, tendo o Rei Zogu I partido para o exílio em Inglaterra, onde viria a falecer anos mais tarde.

Partido Comunista da Albânia
O Partido Comunista Albanês - Partia e Punës e Shqipërisë - foi fundado no dia 8 de Novembro de 1941 sendo nomeado Enver Hoxha como Primeiro Secretário, uma posição que viria a ocupar até ao dia da sua morte, em Abril de 1985. E seria precisamente o Partido Comunista que lideraria com sucesso a resistência albanesa contra os Fascistas Italianos, e a partir de 1943, conta os Nazis Alemães.

Após o final da II Guerra Mundial, os Comunistas consolidaram o seu poder no país, declarando a República Popular da Albânia, no ano de 1946, com Enver Hoxha a ser nomeado Presidente e Camarada Supremo. O Partido Comunista votou o país a um isolacionismo sem paralelo na história dos Comunismos Europeus, após cortar relações, em 1948, com a Jugoslávia, que pretendia anexar a Albânia como membro da Federação. Os lideres comunistas albaneses aproximaram a Albânia da esfera da URSS de Estaline encetando uma série de reformas económicas soviéticas no país, dando inicio a uma cooperação estreita que se viria a verificar até 1960, momento em que Nikita Khrushchev exigiu a construção de uma base de submarinos soviética na baía de Vlorë.

Cartaz alusivo à cooperação Hoxha - Mao
Um ano depois a Albânia cortou oficialmente relações com a URSS reorientando-se na direcção da República Popular da China, de Mao. Esta manobra de recolocação política também se revelou útil a  Enver Hoxha na medida em que o permitiu efectuar uma purga excluindo do partido todos os seus rivais acusando-os de serem espiões da URSS, da mesma maneira que já tinha procedido aquando do corte de relações com a Jugoslávia.
Entre 1966 e 1967 a Albânia foi palco de uma severa revolução cultural estilo-chinês, com funcionários administrativos a serem subitamente transferidos para áreas remotas enquanto jovens quadros eram colocados em posições de liderança. Foram saqueadas e destruídas inúmeras igrejas e mesquitas, e atingiu-se a total colectivização da agricultura.
Em 1968, na sequência da invasão Soviética da Checoslováquia, a República Popular da Albânia decidiu deixar o Pacto de Varsóvia optando por seguir uma independente e auto-confiante e política de defesa.

Bunker em área rural perto de Fier
Esta consistiu no desenvolvimento de bunkers quase impossíveis de destruir, construídos em cimento e ferro e pesando quase cinco toneladas, que foram colocados por todo o país e em quase todo o tipo de superfícies, desde praias, montanhas e mesmo no interior de cidades. Aliás, a colocação de cerca de 700 mil bunkers é hoje um dos principais legados do Comunismo no país, bem como a erradicação da malária, a auto-suficiência em termos de energia eléctrica (através da construção de várias barragens) e do incremento da taxa de alfabetização, colocando-a não longe dos 100%.

Com as mudanças operadas na China após a morte de Mao Zedong, em 1976, a única relação da Albânia com um país estrangeiro acabou por ter o seu fim, ficando assim o país completamente isolado e sem aliados, e ao mesmo tempo com uma enorme quebra económica.

Enver Hoxha (1908-1985)
Enver Hoxha faleceu em 1986, sendo substituído por Ramiz Alia que tentou operar algumas reformas principalmente ao nível do abrandamento de algumas restrições, no entanto o sistema comunista estava já em queda livre e o seu fim revelava-se inevitável. Por esta altura as pessoas não estavam já preocupadas em trabalhar nas quintas colectivas, facto que começava a gerar crises de falta de comida nas cidades, ao mesmo tempo que a indústria do país começava também a falhar devido à falta de peças de reposição.
Em Junho de 1990, inspirados pelas mudanças que começavam a ocorrer na Europa de Leste, cerca de 4500 albaneses refugiaram-se em embaixadas ocidentais em Tirana. Após breves confrontos com a polícia estas pessoas tiveram permissão para entrar a bordo de navios rumo a Brindisi em Itália, onde lhes fora concedido asilo político.
Em Dezembro de 1990 na sequência de enormes manifestações de estudantes nas ruas de Tirana o Governo aceitou aceder à intenção da população, permitindo a formação de partidos de oposição. Foi então fundado o Partido Democrático liderado pelo cirurgião Sali Berisha, entre outros.
A continuação das manifestações levou a que o Partido Comunista fizesse novas concessões, entre elas a promessa de realização de eleições livres. O Governo realizou também uma purga, afastando assim a maior parte da linha dura do partido.
As eleições de Março de 1992 foram o culminar de 47 anos de domínio comunista. Após a resignação de Ramiz Alia, o Parlamento elegeu Sali Berisha como Presidente. Em Setembro, o ex Presidente Ramiz Alia foi colocado em prisão domiciliária após ter escrito artigos em que criticava o novo Governo Democrático. Mais tarde, em 1993, seria também dada ordem de prisão a Fatos Nano, líder do Partido Socialista, acusado de corrupção.
Praça Skanderbeg em Tirana - Palco dos protestos contra o regime
 Desde que a Albânia passou de um controlado regime comunista para um quase sistema anárquico de mercado free-for-all, registaram-se várias crises no país que vão desde um assustador aumento do contrabando, principalmente de carros, com um enorme número de Mercedes Benz roubados a entrar no país, e de droga, com várias antigas quintas colectivas a serem convertidas em campos de plantação de marijuana, enquanto que em outras ex quintas colectivas a crise era outra: o grande número de pessoas a quem o regime tinha ali colocado foram expulsas por outras pessoas que se auto-proclamavam donas dos terrenos aquando da anexação dos mesmos por parte dos comunistas. Estas situações originaram um enorme êxodo rural, com uma grande parte da população a partir rumo a Tirana. Há também a registar a crise da imigração ilegal, que converteu o porto de Vlore no maior ponto de passagem de imigrantes provenientes da Ásia e Médio Oriente rumo a Itália.
Registou-se também uma enorme crise económica em 1996, com o colapso de uma enorme pirâmide de investimentos privados fomentados pelo regime de Berisha, que originou que 70% dos albaneses acabassem por perder as suas poupanças. Situação que resultou em enormes motins e numa corrida às armas que culminou na destruição da maior parte das indústrias remanescentes da era comunista. A situação resolveu-se apenas com a realização de novas eleições, das quais sairia eleito Fatos Nano, o líder Socialista entretanto libertado da prisão.
Em 1999 registou-se nova crise no país com o influxo de cerca de 500 mil refugiados do Kosovo, em consequência da guerra, entre os países da NATO e a Sérvia, naquela região. A chegada em massa deste grande número de pessoas originou uma enorme quebra de recursos a vários níveis no país, que no entanto acabaria por resultar numa situação favorável para a Albânia visto que simultaneamente acabaria por dar entrada no país um grande volume de dinheiro proveniente da ajuda internacional. Esta situação permitiu que a inflação reduzisse bastante, ao mesmo tempo que o sector de serviços começava a crescer abruptamente.
Desde 2002 que a economia do país tem vindo a crescer, ao mesmo tempo que o investimento ao nível do turismo se vem tornando uma realidade.
Praia de Ksamil - Sul da Albânia
Com enormes potencialidades ao nível do turismo, que vão desde praias banhadas pelo Mar Jónico e Adriático, a Lagos lindos e fascinantes como o Lago Ohrid e o Lago Shkoder, altas montanhas que chegam quase aos três mil metros de altitude, onde poderão surgir empreendimentos relacionados com desportos de inverno, duas cidades históricas bem preservadas e consideradas património mundial pela UNESCO, a Albânia revela-se assim como um destino turístico improvável mas algo fascinante e quase desconhecido na Europa.

2 comments:

  1. Muito bom o seu texto. Pena que sobre o período comunista, você menciona apenas aspectos curiosos - os bunkers, ou positivos, a erradicação da malária, a auto-suficiência em termos de energia eléctrica e o incremento da taxa de alfabetização. Faltou citar os pontos negativos: repressão, tortura e violações de direitos humanos, falta total de liberdade, generalização da pobreza e regresso/atraso econômico. Como resultado disso, ao final da Guerra Fria a Albânia era o pais mais pobre e menos desenvolvido de toda a Europa, pior inclusive do que as ex-republicas soviéticas, muito em função do isolamento absurdo da Albânia durante a Guerra Fria. Ou seja, as consequências negativas do regime comunista na Albânia foram muito mais significativas do que os pontos positivos que você citou.

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  2. Well, I cannot really read it, but I was pleasantly surprised how good-looking Enver is :D

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