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Berat - A Cidade das Mil Janelas - Bairro de Mangalem |
Apesar de ter sido adicionada à lista das cidades Património Mundial pela UNESCO em 2008, a cidade de
Berat era
já considerada pelo regime comunista uma Cidade-Museu, facto que em muito
contribuiu para que a sua traça muito
característica e única na Europa, tivesse conseguido chegar desde o período
Otomano até aos dias de hoje quase sem alterações. Isto porque a construção de
novos edifícios nas zonas históricas da cidade foi quase inexistente à
excepção de infraestruturas consideradas de carácter essencial para a
população ali residente.
História
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Rua de Gorica à Noite |
Esta cidade, conhecida como a cidade das
mil janelas é um dos maiores pontos turísticos da Albânia e está por
isso incluída obrigatoriamente no roteiro de viagem de qualquer pessoa
que decida visitar o país. Não sendo por isso de estranhar que
Berat tenha sido a cidade que visitei por mais vezes durante a minha permanência de nove meses na Albânia. Ao ser o mais conhecido ponto turístico do país, era-me sempre
"exigido" ali voltar sempre que recebia visitas. Todavia, quando cheguei à Albânia, pouco
mais conhecia de
Berat além do facto de esta ser uma das duas cidades
albanesas que constam da lista das cidades Património Mundial da UNESCO.
Sabia também através de amigos que já tinham visitado a cidade, que a cidade das mil janelas, tem a sua parte histórica dividida em três partes,
Kala (castelo),
Mangalem (bairro islâmico)
e
Gorika (bairro cristão), estando estes últimos separados por um rio.
Não sabia, contudo, que esta hoje muito normal e pacata cidade albanesa de 45 mil pessoas, foi no passado um importante ponto passagem de vários povos, sendo que os Ilírios, foram os primeiros que ali se fixaram, no século III ac., construindo para isso uma estratégica fortaleza - Antipatrea.
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Mesquita Vermelha - Séc XV |
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Cisterna Otomana - Ruínas |
Os Bizantinos também passaram por Berat, durante os séculos V e VI, tendo, durante esse período, reconstruído e modernizado fortificações já existentes no local. Quatrocentos anos mais tarde foram os Búlgaros quem se fixou na cidadela de Berat, até 1345, ano em que os Sérvios conquistaram e ocuparam a cidade, a que deram o nome de Beligrad - Cidade Branca.
Pouco mais de cem anos depois, em 1450, seriam os Turcos Otomanos a conquistar a cidadela, onde permaneceriam durante vários séculos.
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Igreja Bizantina da Santa Trindade - Séc XIII |
A cidadela de
Berat, hoje existente, data do século XIV, trata-se de um bairro no interior do castelo -
Kala - que na antiguidade, e ao contrário de hoje, se tratava de um bairro cristão. No entanto das vinte igrejas existentes no passado, apenas doze ainda existem actualmente, mas não é uma tarefa fácil conseguir visitá-las visto que cada uma delas pertence a uma família, o que faz com que seja necessário encontrar o proprietário de cada uma das igrejas e pedir-lhe o favor de nos conceder a respectiva chave. A igreja mais importante do
Kala é a igreja da
Dormição de Santa Maria, onde se realiza apenas uma missa por ano devido a ali estar instalado um museu de arte sacra - Museu
Onufri.
Bairro Kala, no interior do castelo de Berat (esq) Subida até à cidadela com o "guia" (dta)
Numa das minhas visitas a
Berat consegui através de uma pequena gratificação, que um dos moradores - o bairro
Kala trata-se de um bairro inserido na zona histórica de
Berat, que tem por isso os seus moradores e a sua própria vida
quotidiana, como atestam os carros estacionados e roupa estendida - me mostrasse toda a cidadela, embora não me tenha aberto nenhuma das igrejas.
Diário de Viagem
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Bairro de Mangalem visto desde Gorica, à noite |
Quando visitei
Berat pela
primeira vez, no mês de Dezembro de 2011, vi uma cidade
Otomana, em que as casas, brancas com enormes janelas, se debruçavam nas
paredes de duas montanhas separadas pelo rio
Osumi. Era um frio e molhado
dia inverno, e apesar de ter chegado à cidade já ao entardecer e sem
muitas expectativas quanto ao resto do dia, deparei-me com um fantástico
cenário. Era o fim de um dia sem muito sol em que uma ligeira, embora
muito baixa neblina, não conseguia esconder totalmente o topo dos altos
minaretes das várias mesquitas da cidade. E a tudo isto há ainda a juntar o contraste com os cumes
nevados das montanhas adjacentes: espectacular!
O despertar albanês - Começar o dia com um copo de raki, aguardente albanesa.
Começava
a anoitecer mas ainda não tínhamos um sitio para dormir, por isso
decidimos entrar no mercearia e ali perguntar se haveria por acaso
alguém que nos alugasse um quarto por uma noite.
Foi-nos prontamente
dito que sim e após cinco minutos de espera chegou
uma senhora de idade com uma grande chave de ferro na mão que nos pediu
que a seguissemos. Ficámos assim alojados numa velha casa de uma típica
família rural albanesa, tão típica que até tivemos direito ao pequeno
almoço albanês, que começa com um
raki (aguardente) em jejum, que
segundo os locais se trata de um elixir tradicional para uma vida longa e
saudável.
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Passeio pelas ruas do Bairro Mangalem |
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Acesso ao castelo pela rua Mangalem |
Depois de nos despedirmos e deixarmos a casa, subimos as inclinadas ruas do bairro de
Mangalem até chegarmos ao castelo, onde passamos umas duas horas. Ao descer as mesmas ruas, decidimos visitar o Museu Etnográfico.
Este museu localiza-se dentro de uma típica casa Otomana do século XVIII decorada com todos os artefactos ligados ao modo de vida dos habitantes de
Berat durante esse época.
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Casa Museu Etnográfico |
Foi interessante observar áreas como um salão de chá numa enorme varanda, e uma sala de fumo Otomana, vedada na época ás mulheres, cuja presença se cingia a uma pequena sala contígua a esta, onde existiam pequenas janelas que permitiam, contudo, às mulheres observar o que se passava na sala de fumo - era a partir destas janelas que a maior parte das mulheres de
Berat tinham o primeiro contacto visual com o seu futuro marido.
A entrada no museu custa cerca de um euro e a visita dura cerca de
meia hora. São ainda disponibilizados folhetos informativos em várias
línguas sobre as diversas divisões da casa.
Após a visita ao museu Etnográfico descemos pelas ruas do bairro
Mangalem, até à
Xhamia e Mbretit, ou Mesquita do Sultão, que datando do séc XVI, consiste, por isso, numa das mais antigas de toda a Albânia.
O exterior da mesquita do Sultão (esq) Interior da mesquita do Sultão (dta)
Posto destinado à oração das mulheres (esq) Posto destinado ao Imã (centro) Minbar de onde o Imã ora a Khutba (dta)
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Vista da Mesquita desde sua a área superior |
Nas traseiras da mesquita situa-se o
Helveti teqe, um local de culto dos islâmicos
Helviti, que tal como os
Bektashi, muito populares no país, são também uma ordem / ceita, ou irmandade existente no seio do culto islâmico. Para aceder a este local deverá ser requisitada sem quais custos a chave do mesmo, o que consegui após perguntar a várias pessoas acerca do paradeiro do proprietário da chave. Uma vez no interior do
Helveti teque há a destacar a beleza dos seus tectos trabalhados em madeira além dos túmulos dos fundadores desta ordem.
A beleza dos tectos trabalhados em madeira no interior do Helveti Teque (ambas as fotos)
Apesar da endémica falta de informação turística, além da Mesquita do Sultão, existem na área do bairro Islâmico de
Mangalem, pelo menos mais duas monumentais mesquitas, às quais não consegui aceder por estarem fechadas. A maior é a
Xhamia e Plumbit (Séc XVI) - Grande Mesquita, mas a mais bonita é a
Xhamia e Beqarevet (Séc XIX), que se situa um pouco mais abaixo junto ao rio, e que apesar dos seus lindos frescos nas paredes exteriores, acaba por passar despercebida mesmo existindo uma loja de souvenires no seu interior.
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Azeite, Manteiga e vários tipos de Queijo |
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Comércio de Galinhas em plena rua |
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Queijos de Cabra e Ovelha |
Antes de passar a ponte sobre o rio
Osumi, para visitar o bairro cristão -
Gorica -, fizemos uma breve passagem pelo mercado da cidade que se situa logo à saída da Mesquita que visitámos. Eram 11 da manhã e como tal o mercado já não estava muito cheio, embora existissem ainda muitos produtos alimentares à venda no interior do mercado, bem como todo o tipo de animais vivos no exterior das suas precárias instalações. Após sair do mercado dirigi-me finalmente ao bairro de
Gorica, onde se localizam a maior parte das igrejas da cidade. A mais importante é o Mosteiro de
Santo Espiridião, que não consegui visitar devido a ser domingo e estar encerrado
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Em baixo: Interior de uma igreja Ortodoxa no bairro de Gorica (esq) O monte Tomorri visto desde Berat (dta)
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Igreja Ortodoxa em Gorica |
Algumas das igrejas de
Gorica viram os seus frescos ficarem perdidos durante o comunismo, altura em que estes foram cobertos por tinta branca ou cal. No entanto estão em curso, apesar de muito atrasados, trabalhos de restauração nestas igrejas. O bairro de
Gorica é muito mais pequeno que o bairro de
Mangalem, mas para quem gosta de fotografia, este é o ponto da cidade que oferece a melhor vista. Para mim, melhor até que a vista do castelo, porque daqui é possível ver-se todas as casas do bairro de
Mangalem que se debruçam na montanha em direcção ao rio.
A cidade de
Berat revela-se assim, sem dúvida, um destino a não perder caso tenham a oportunidade de visitar a Albânia.
Como Chegar
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Bairro de Gorica visto desde Mangalem |
Das três vezes que visitei
Berat, cheguei à cidade de três formas distintas. Nas duas primeiras visitas, parti ambas as vezes de
Tirana, utilizando contudo diferentes meios de transporte. Na primeira vez utilizei um autocarro, e da segunda vez o trajecto foi feito numa
Minivan (carrinhas geralmente velhíssimas, às quais os albaneses chamam furgões, em cujo número de passageiros é quase ilimitado. Esta é a forma mais rápida e mais comum de transporte na Albânia, não sendo contudo a mais barata, que é o comboio, cujas condições são decrépitas, além de não chegar a muitos pontos do país, por exemplo a
Berat. Da última vez que visitei
Berat, foi num carro alugado e o percurso foi feito através
Gjirokaster via
Tepelene. Todavia sendo que percurso dura cerca de 6 horas apesar da distância ser apenas de 120 quilómetros, caso se pretenda viajar só por um dia a
Berat, é aconselhável partir desde
Tirana que também está sensivelmente à mesma distância, mas cujo tempo de viagem é metade.
Bacana a descrição de Berat. Fiquei com mais vontade de conhecer os Balcans.
ReplyDeleteBerat é realmente muito bonito. Com essa descrição até dá vontade de voltar!
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