A ponte e a fortaleza de Skopje vistas da margem esquerda do rio Vardar |
Situada no coração dos Balcãs bem no centro da rota entre Belgrado e Atenas, Skopje acabou por ter uma história algo rica ao longo dos tempos. Hoje é a capital e a maior cidade da República da Macedónia, onde reside cerca de um terço da população do país. Procura por isso transfigurar-se e assumir-se como uma verdadeira capital de um novo país.
História
Muralhas Otomanas do castelo de Skopje |
Com a divisão do Império Romano a cidade passou a depender directamente de Constantinopla e a figurar no mapa do Império Bizantino que durante todo o primeiro período da Idade Média disputou a cidade com o crescente Império Búlgaro. Skopje chegou a ser declarada capital do Império Búlgaro durante 20 anos, entre 972 e 992, sendo posteriormente recapturada pelo Império Bizantino, no seio do qual permaneceu até ser conquistada pelo Império Sérvio, em 1282 sob comando do Rei Estêvão Milutino II, da dinastia Nemanjic. Mais tarde, o seu neto, o Rei Estêvão IV Duchan aproveitando-se das lutas internas do Império Bizantino declarou-se Imperador dos Sérvios e dos Romanos. Todavia o apogeu do Império Sérvio revelou-se de muito curta duração sendo que em 1352 as tropas Sérvias foram derrotadas pelo Império Otomano precipitando a entrada em força deste nos territórios dos Balcãs.
Muitas das igrejas de Skopje foram pilhadas e convertidas em mesquitas pelos Otomanos
A morte misteriosa de Estevao IV Duchan levou à coroação antecipada do seu filho Estêvão V que viu a fragmentação do Império Sérvio em vários Principados como a única forma de suster o avanço das tropas Otomanas. Assim, Vuk Brankovic, um nobre Sérvio a quem foram concedidas as províncias do Kosovo e Metódia bem como os territórios do norte do Montenegro e da Macedónia de hoje, foi o último Sérvio, e também Cristão, a governar a cidade de Skopje antes de esta ser sujeita a mais de 500 anos de domínio Otomano.
Desde a conquista de Skopje pelo Império Otomano, no ano de 1392, que a cidade foi votada a uma enorme metamorfose que começou com a mudança do seu nome para o nome turco de Uskub, e que se estendeu a outras várias e grandes alterações, quer a nível arquitectónico, com a construção de variadas infraestruturas Otomanas, quer a nível social, com um grande incremento da população muçulmana, que passou a ser a maioria populacional, terminando assim com a hegemonia crista na cidade.
Muitas das igrejas de Skopje foram pilhadas e convertidas em mesquitas pelos Otomanos
Mesquita Mustafa Pasha, a maior de Skopje |
Desde a conquista de Skopje pelo Império Otomano, no ano de 1392, que a cidade foi votada a uma enorme metamorfose que começou com a mudança do seu nome para o nome turco de Uskub, e que se estendeu a outras várias e grandes alterações, quer a nível arquitectónico, com a construção de variadas infraestruturas Otomanas, quer a nível social, com um grande incremento da população muçulmana, que passou a ser a maioria populacional, terminando assim com a hegemonia crista na cidade.
Construída pelos Turcos Otomanos no ano de 1492, a mesquita de Mustafa Pasha sofreu durante 5 anos obras de restauro subsidiadas pelo governo da Turquia que culminaram no ano de 2011.
Integrada no Império Otomano, onde foi declarada sede de um Sanjak com o seu nome, Uskub atingiu uma importância que nunca antes tinha tido nos Balcãs afirmando-se como uma importante base Otomana visando as suas ambições de chegar à Europa Central. Ao mesmo tempo a cidade foi ganhando um grande mosaico populacional multi-étnico, composto por Ortodoxos, Católicos Romanos e Muçulmanos, em virtude do seu carácter comercial muito característico das cidades Otomanas e foi por isso a cidade eleita pelos Judeus Sefarditas para se instalarem após a sua fuga à inquisição levada a cabo na península ibérica.
As ruas da Carsija, a parte Otomana de Skopje são tremendamente características e ainda tipicamente Turcas
O que parecia tratar-se na íntegra de uma cidade Otomana na realidade não era bem assim visto que um movimento revolucionário anti-Otomano, conhecido por Organização Revolucionária Interna da Macedónia, começava a ganhar forma na clandestinidade. Este movimento tinha o seu centro de actividade na cidade de Tessalónica na Grécia e era constituído por cidadãos búlgaro-macedónios cuja ideologia passava por considerar "macedónios" todos os habitantes da região, independentemente da sua etnia ou religião. Porém a falta de organização deste movimento bem como as carências de armamento que se verificavam no seu seio levaram a que este nunca tenha constituído uma real ameaça ao domínio Otomano apesar da revolta registada em 1903 em Skopje contra a sua presença na cidade que apenas culminou no descarrilamento de um comboio militar turco.
Rua principal do bairro da Carsija, o bairro mais antigo de Skopje e hoje muito frequentado pela minoria albanesa
As tropas Otomanas apenas não resistiram à invasão das tropas da frente unida do Montenegro, Grécia, Sérvia e Bulgária verificada na sequência da I Guerra dos Balcãs que culminaria com a marcha vitoriosa de 15 mil albaneses em Uskub, no dia 12 de Agosto de 1912. Após a chegada das tropas do Reino da Sérvia no mesmo ano ficou consumada a retirada das tropas Otomanas de todo o território da hoje República da Macedónia e a mudança do nome da cidade de Uskub para Skopje.
O Tratado de Londres, assinado em 1913 legitimou a autoridade Sérvia no norte da Macedónia e consequentemente a cidade de Skopje permaneceu sob controlo Sérvio durante a II Guerra dos Balcãs que ocorreu no mesmo ano. Durante este período a cidade foi dominada por uma elite Sérvia que se impôs aos locais votando-os a uma enorme repressão, onde se levaram a cabo políticas de des-bulgarizaçao e de assimilação forçada, nunca antes verificadas durante a época em que a cidade esteve sob domínio Otomano. Mais tarde Skopje foi mesmo ocupada pelas tropas búlgaras por um pequeno período de tempo durante a I Guerra Mundial, voltando depois às mãos dos Sérvios e do recém criado Reino da Jugoslávia.
Apesar das manifestações contra a II Guerra Mundial, esta
fez-se sentir na cidade a partir do momento em que as tropas da Alemanha Nazi a conquistaram no dia 7 de Abril de 1941, delegando posteriormente o controlo desta no Exército Búlgaro, que lutava ao lado das tropas do Eixo.
Skopje foi libertada em 1944 pelos Comunistas Jugoslavos membros do Exército de Libertação Nacional Macedónia, e tornou-se assim na capital da Macedónia Democrática, que foi posteriormente inserida na República Socialista Federal da Jugoslávia, e consequentemente renomeada República Socialista da Macedónia.
Edifício em ruínas desde o terremoto (esq) A antiga estação ferroviária de Skopje cujo relógio está parado desde 1963 (dta)
Após a II Guerra Mundial Skopje passou por um período de estabilidade e desenvolvimento pacífico transformando-se num centro de e diferentes indústrias no seio da Jugagoslávia como a metalúrgica, textil, e quimicas. Desenvolvimento que sofreu um retrocesso no ano de 1963 quando foi em que a cidade foi assolada por um terrivel terramoto que a destruiu parcialmente.
O monumento a Alexandre o Grande, o maior de Skopje (esq) A ponte Romana e os novos monumentos da cidade (dta)
Integrada no Império Otomano, onde foi declarada sede de um Sanjak com o seu nome, Uskub atingiu uma importância que nunca antes tinha tido nos Balcãs afirmando-se como uma importante base Otomana visando as suas ambições de chegar à Europa Central. Ao mesmo tempo a cidade foi ganhando um grande mosaico populacional multi-étnico, composto por Ortodoxos, Católicos Romanos e Muçulmanos, em virtude do seu carácter comercial muito característico das cidades Otomanas e foi por isso a cidade eleita pelos Judeus Sefarditas para se instalarem após a sua fuga à inquisição levada a cabo na península ibérica.
As ruas da Carsija, a parte Otomana de Skopje são tremendamente características e ainda tipicamente Turcas
O que parecia tratar-se na íntegra de uma cidade Otomana na realidade não era bem assim visto que um movimento revolucionário anti-Otomano, conhecido por Organização Revolucionária Interna da Macedónia, começava a ganhar forma na clandestinidade. Este movimento tinha o seu centro de actividade na cidade de Tessalónica na Grécia e era constituído por cidadãos búlgaro-macedónios cuja ideologia passava por considerar "macedónios" todos os habitantes da região, independentemente da sua etnia ou religião. Porém a falta de organização deste movimento bem como as carências de armamento que se verificavam no seu seio levaram a que este nunca tenha constituído uma real ameaça ao domínio Otomano apesar da revolta registada em 1903 em Skopje contra a sua presença na cidade que apenas culminou no descarrilamento de um comboio militar turco.
Rua principal do bairro da Carsija, o bairro mais antigo de Skopje e hoje muito frequentado pela minoria albanesa
Soldados Sérvios trocam o nome da cidade |
Saat Kulla, construída entre1566 e 1572 |
Arco de um edifício Otomano na Carsija |
fez-se sentir na cidade a partir do momento em que as tropas da Alemanha Nazi a conquistaram no dia 7 de Abril de 1941, delegando posteriormente o controlo desta no Exército Búlgaro, que lutava ao lado das tropas do Eixo.
Skopje foi libertada em 1944 pelos Comunistas Jugoslavos membros do Exército de Libertação Nacional Macedónia, e tornou-se assim na capital da Macedónia Democrática, que foi posteriormente inserida na República Socialista Federal da Jugoslávia, e consequentemente renomeada República Socialista da Macedónia.
Edifício em ruínas desde o terremoto (esq) A antiga estação ferroviária de Skopje cujo relógio está parado desde 1963 (dta)
Após a II Guerra Mundial Skopje passou por um período de estabilidade e desenvolvimento pacífico transformando-se num centro de e diferentes indústrias no seio da Jugagoslávia como a metalúrgica, textil, e quimicas. Desenvolvimento que sofreu um retrocesso no ano de 1963 quando foi em que a cidade foi assolada por um terrivel terramoto que a destruiu parcialmente.
O monumento a Alexandre o Grande, o maior de Skopje (esq) A ponte Romana e os novos monumentos da cidade (dta)
Em 1991 Skopje tornou-se na capital do recém-independente Estado da República da Macedónia e desde aí a cidade tem vindo a crescer passando de uma populaçao de apenas 150 mil pessoas em 1945 para mais de 600 mil habitantes actualmente.
Diário de Viagem
A arquitectura comunista e a neve de Skopje |
Visitei Skopje pela primeira vez em Agosto de 2010 onde cheguei a partir de Pristina no Kosovo, e a minha impressão da cidade não foi a melhor. A austera arquitectura comunista da era da Jugoslávia fez com que Skopje me parecesse uma cidade fria, austera e pouco acolhedora, isto apesar do calor transpirante de quase quarenta graus. Contudo durante o meu ano de estadia em Tirana acabei por voltar a visitar mais vezes a cidade de Skopje e por perceber que não me devia ter deixado enganar pela primeira impressão que tive.
Apesar de não ser uma cidade propriamente turística existem vários locais para visitar e principalmente muito para fazer em Skopje onde existem inúmeros, cafés, bares, salões de chá tipicamente Otomanos bem como uma activa vida nocturna nesta cidade.
Praça da Macedónia com a gigante estátua de Alexandre, o Grande |
A Plostad Makedonija, praça da Macedónia, é o ponto mais central da cidade e onde se situa a estátua de Alexandre, o grande, seguramente uma das maiores estátuas que me lembro de ter visto. De espantar é também o número absurdo de estátuas que existem em redor de toda a praça, simplesmente indescritível. A carência de identidade nacional desta república independente desde a desintegração da Jugoslávia fez com que Alexandre, o Grande, antigo Imperador do Antigo Reino da Macedónia seja considerado o herói desde país apesar de terem passado mais de dois mil anos desde a sua morte.
Diversas estátuas construídas na Praça da Macedónia, em redor da grande estátua de Alexandre, o Grande
Estão em construção estátuas da mulher de Alexandre, o Grande bem como da sua mãe. As demais estátuas, além de esculturas indecifráveis, tratam-se tanto de figuras ligadas à independência do país, como de padres ortodoxos, e existem até um arco do triunfo. De salientar que na outra margem do rio, habitada maioritariamente por albaneses, não existem tantas estátuas, embora eu tivesse descoberto uma estátua de Skanderbeg, o herói nacional albanês.
Ao cruzar a ponte de pedra do século XV sobre o rio Vardar, que originalmente é de construção Romana, estamos a aproximar-nos da Carsija, ou antigo bazaar Turco, onde ainda permanecem muitas das antigas cores, cheiros e hábitos que resistem desde os tempos em que a cidade esteve sob ocupação Otomana.
Aqui ao mesmo tempo que nos perdemos por estreitas ruas onde permanecem as antigas lojas com antigos pórticos de madeira onde no interior podemos observar alfaiates bem como artesãos que trabalham ouro e prata. E ao mesmo tempo é possível visitar várias mesquitas, os banhos turcos de Daut Pasha que apesar de terem sido renovados e transformados numa galeria de arte mantém o interesse da originalidade da estrutura tipicamente Otomana. Um pouco mais acima situa-se o Tvrdina Kale, a fortaleza de Skopje onde se escondem vários tesouros arqueológicos, mas que em todas as minhas visitas a Skopje se encontrava encerrada.
Skopje é uma cidade com muito vida e onde existem vários mercados repletos de cores, onde se ouvem os pregoes em várias línguas. Foi interessante para mim visitar estes mercados onde adquiri produtos regionais a preços muitos baixos. Nos mercados também é possível saborear vários pratos tradicionais da gastronomia da região.
São muitos os mercados existentes na cidade e com uma vasta gama de produtos artesanais à disposição
Apesar da área da Carsija ter resistido ao sismo que assolou a cidade em 1963, este destruiu os seus maiores explendores, como a sua fortaleza e os seus edifícios neo-clássicos do século XVIII e XIX, entre eles o do Teatro Nacional entre outros edifícios governamentais que foram posteriormente substituídos por edificios austeros da época comunista dos anos sessenta. Nos dias de hoje Skopje assiste a um esforço brutal de reconstrução de novos edifícios do estilo neo-clássico que se espera seja concluído em 2015 já depois do projecto Skopje 2014.
Em cima: Edifício do Museu Nacional (esq) Edíficio do novo Banco Nacional
Em baixo: Zona ribeirinha com a ponte sobre o rio Vardar (esq) Estádio Filipe II, pai de Alexandre, o Grande
A maior da área de concentração de mesquitas em Skopje é a Carsija porque é uma área de típica arquitectura Otomana e Islâmica, no entanto a Republica da Macedónia é um país Ortodoxo e como não poderia deixar de ser são várias as igrejas Ortodoxas em Skopje. Embora seja uma igreja moderna, a mais conhecida é a catedral Ortodoxa de Sao Clemente de Ohrid, bem no centro da cidade e que data de 1972. Existe também uma igreja Católica bem no centro desta cidade onde um dia nasceu Madre Teresa de Calcutá, chamada Igreja do Santo Coração de Jesus.
Catedral Ortodoxa de São Clemente de Ohrid (esq) Museu e Igreja de Madre Teresa (dta)
A apenas meia hora de Skopje aconselho visitar o bonito Lago Matka. Este lago teve origem a partir da construção de uma barragem no rio Treska e situa-se numa zona montanhosa onde existem várias igrejas bizantinas construídas em grutas que se podem visitar de barco. Podem fazer-se várias caminhadas em trajectos de montanha para apreciar a beleza da área e visitar as grutas onde meditavam os ermitas bizantinos e que também foram usadas pelos revolucionários macedónios como esconderijo face à perseguição que sofriam dos Otomanos.
Como Chegar
Antigo autocarro jugoslavo ainda em serviço em Skopje |
Não é difícil chegar a Skopje a partir de qualquer cidade nos Balcãs, incluindo Tirana. Também existem serviços de autocarro desde Istambul, Sofia, bem como de várias cidades na Alemanha. Existem companhias lowcost que operam desde Londres.
De Skopje até ao lago Matka pode chegar-se ou de táxi ou através de uma mini-van que faz esse percurso três vezes por dia.
Bacana o seu relato sobre Skopje, por exemplo, o fato deles construírem muitas estatuas de Alexandre para "cultivar" uma identidade nacional que é ainda carente no país.
ReplyDeleteAo contrario de você, eu nao tenho interesse algum em visitar essas antigas ex-cidades comunistas do sul da Europa, mas o lago Matka me parece um belo local para se conhecer'