Sunday, March 17, 2013

Podgorica - Подгорица

A torre Otomana de Podgorica, bem no centro da cidade
 
A cidade de Podgorica, Titograd durante a época da Jugoslávia, situa-se na parte central do Montenegro, é banhada por dois rios, e não se encontra muito distante do Lago Shkodra, que se situa na fronteira com a Albânia, a apenas 15 quilómetros. Ao contrário da maior parte do território do Montenegro, Podgorica situa-se numa área plana embora não muito distante das montanhas. Apesar do Montenegro ser um país reconhecido pela sua beleza, principalmente no seu litoral, a capital Podgorica não é uma cidade interessante e pouco mais tem para ver do que os seus altos e cinzentos apartamentos, intercalados com grandes espaços verdes, construídos durante a época em que o Montenegro era uma das Repúblicas da Jugoslávia.


História

A linha férrea a caminho de Podgorica
Apesar de próxima do Mar Adriático e situada bem perto de importantes rotas históricas na Península dos Balcãs a cidade de Podgorica é uma cidade de cuja história não é propriamente rica. A cidade foi ocupada por tribos Ilírias que escolheram esta localização devido à sua posição geográfica não muito longe do mar e numa zona não muito montanhosa, ao contrário da maior parte do território montenegrino.  
A chegada das tribos eslavas no século V foi coincidiu com a perda de influencia do Império Romano nos Balcãs. Após a divisão do Império Romano o poder dos eslavos cresceu exponencialmente nesta zona da Península dos Balcãs e estes começaram a entrar em permanentes conflitos com os ocupantes Bizantinos acabando mais tarde por separar-se do Império Bizantino. A criação da cidade de Ribnica, estima-se que tenha sido este o primeiro nome Podgorica, remonta já à era da família real Sérvia Nemanjic. O nome Podgorica foi pela primeira vez mencionado em 1326 num documento real descoberto nos arquivos de Kotor

 
As montanhas, como estas próximas da cidade de Podgorica, são a paisagem comum do Montenegro

Em 1474, quando o Império Otomano capturou a cidade de Podgorica, esta tratava-se de um centro comercial regional, e de uma cidade economicamente forte por onde passavam as rotas que ligavam a cidade comercial de Dubrovnik ao Estado Real de Nemanjic. Anexada pelos Otomanos a cidade foi integrada no Sanjak de Scutari em 1479.
 
       O espectacular Lago Skhoder é uma das fronteiras entre a Albânia e o Montenegro

Quatro séculos de domínio Otomano na cidade terminaram em 1878 quando no seguimento da Conferencia de Berlim, Podgorica foi concedida ao Montenegro. O desenvolvimento da maior cidade do Reino do Montenegro foi travado pela I Guerra Mundial com esta a ser ocupada, bem como resto do país, pelo Império Austro-húngaro, entre 1916 e 1918. Pouco depois da libertação da cidade pelas forças aliadas, no ano de 1918, deu-se o fim da monarquia do Montenegro cujo território foi incorporado no recém-criado Reino da Jugoslávia. Mas foi a II Guerra Mundial aquela que mais afectou Podgorica que ficou parcialmente destruída, e sofreu mais de 4 000 baixas de civis, após ser bombardeada por mais de 70 vezes. Após ser libertada em 1944 a cidade adoptou o nome de Titograd e tornou-se na capital da República Socialista do Montenegro em 1946.

Nas maiores artérias desta pequena cidade os edíficios são construídos ao estilo comunista Jugoslavo

Integrada na Jugoslávia a cidade viveu o seu período de maior expansão populacional acompanhado de uma grande industrializaçao ao nível das industrias pesadas bem como um grande melhoramento ao nível educacional. A cidade tornou-se no maior centro económico e cultural do Montenegro, mas o progresso de Titograd foi de novo interrompido com o desmembramento da Jugoslávia nos anos 1990. O nome Podgorica voltou a estar em uso em 1992. 

 
Podgorica é uma cidade pobre bastante afectada pela crise económica que viveu nos anos 90 durante a Guerra da Jugoslávia

A cidade passou incólume à destruição causada pelas Guerras da Jugoslávia, que assolaram outras cidades dos Balcãs mas foi fortemente afectada a nível económico, bem como o resto do país, e entrou num período de estagnação económica que durou até ao final da década de 1990. A economia apenas começou a recuperar tenuemente no principio do novo século, ao mesmo tempo que a cidade emergiu como uma nova capital virada para o Ocidente incitada pelo referendo de Maio de 2006 que concedeu a independência ao Montenegro.
 

Diário de Viagem

Estive por duas vezes na cidade de Podgorica, a primeira vez, em Agosto de 2010, cheguei a partir de Belgrado numa viagem de comboio que inicialmente deveria demorar onze horas mas que acabou por durar dezasseis, e da segunda vez, em Novembro de 2012, chegado de Tirana via Shkoder, na Albânia.

Posto fronteiriço Albânia - Montenegro (esq) Linha-de-caminho de ferro na estação de Podgorica (dta)


Ao chegar a Podgorica, não se pensa estar numa capital de qualquer Estado, principalmente devido às suas pequenas dimensões. Trata-se de uma pequena cidade residencial construída em redor de duas ou três avenidas largas tipicamente comunistas, e existem várias estruturas ilegais construídas bem próximo do centro.

 
Após a dissolução da Jugoslávia desapareceram as antigas leis estritas no que concerne à construção e foram construídas muitas estruturas ilegais bem no centro da cidade.

O facto da cidade ter sido arrasada durante a II Guerra Mundial contribuiu para que não exista monumentos na cidade à excepção da antiga torre Otomana, a torre do relógio. Próximo da torre existem algumas ruínas de algumas estreitas ruas tipicamente Otomanas.

 
Fotografias tiradas no centro de Podgorica: Em 2010 (em cima) e em 2012 (em baixo)

Desde que a cidade passou a ser a capital de um Estado independente estão a ser desencadeados esforços para que esta ganhe um carácter mais Ocidental e se torne mais atractiva para o já algo significativo número que visita as reputadas praias do país que era a maior estância balnear da antiga Jugoslávia.

Estrada em recuperação logo a seguir à fronteira com a Albânia. Com o apoio da União Europeia, o Montenegro está a investir na reabilitaçao das suas estradas de forma a estimular o seu potencial turístico.

Como Chegar


Podgorica talvez seja o ponto menos interessante de todo o Montenegro. Porém, atractiva ou não, teremos sempre que visitar esta cidade se desejarmos visitar o Montenegro, porque a muito pequena e limitada desde pequeno país de apenas 600 mil pessoas, faz com que seja imperativo passar em Podgorica para que nos possamos dirigir a qualquer outro ponto do país, seja interior ou litoral.
De qualquer das formas não é fácil chegar a esta cidade a partir de qualquer ponto dos Balcãs que não Belgrado, isto devido à geografia da ex-Jugoslávia que tinha Belgrado como centro. A partir de Belgrado existem serviços regulares de camionagem bem como um comboio nocturno diário até Podgorica

Thursday, March 14, 2013

Šuto Orizari (Šutka) - Шутка



Cartaz de propaganda política na rua central de Šutka


Situada a apenas cinco quilómetros a Norte da capital Skopje, a cidade de Šuto Orizari, ou simplesmente Šutka, é a única cidade na Europa com um Presidente de Câmara de etnia cigana e onde a língua Roma tem estatuto de língua oficial. É a cidade onde existe maior percentagem de habitantes de etnia cigana na Europa, e a mais pobre da República da Macedónia. 



História


Em Šutka vivem cerca de cinquenta mil pessoas, no entanto a população aumenta consideravelmente
no verão com a chegada daqueles que trabalham no estrangeiro durante o resto do ano. A cidade de Šutka começou a ser construída num terreno situado entre a prisão e o cemitério de Skopje por volta de 1963, a data em que ocorreu o terrível terramoto que assolou a capital Macedónia. Até 1996 Šutka era um bairro de Skopje mas tornou-se uma cidade nesse ano com a curiosidade de ser a única cidade na Europa onde com uma população maioritariamente de etnia cigana, incluindo o autarca da cidade, e onde a língua Roma tem estatuto de língua oficial. 

                                    As escaldantes ruas de Sutka sobre um arrasador sol de 40 quarenta graus

 Embora dividido-se entre o Cristianismo e o Islao, cerca de 60% da população é de etnia cigana sendo que o segundo grupo populacional mais significativo na cidade são os albaneses que constituem cerca de 30% da população. A população aumentou significativamente aquando da chegada de refugiados na altura da Guerra do Kosovo. O governo da República da Macedónia tem vindo a encetar esforços no sentido de alargar a inclusão da população de etnia cigana no que concerne à educação.
 
                                             Trailer do filme premiado "sutka the book of records"

Diário de Viagem


Visitar a cidade de Šutka foi uma experiência que quis viver numa das várias vezes que visitei Skopje. Depois de ser apresentado a uma voluntária espanhola que estava ligada a um projecto numa escola de crianças em Šutka pedi-lhe se a podia acompanhar um dia. Ela acedeu, e depois de ver vários documentários sobre Šutka  pude finalmente conhecer este lugar onde as ruas parecem mais próximas da Índia do que da Europa.
 
                     Ao estar em Sutka temos a sensação de estar em qualquer lugar no mundo que não a Europa

Aqui as ruas cheias de vida, cheias de crianças que brincam na rua algumas quase sem roupa. Um lugar onde no mesmo arruamento sem asfalto onde predominam as poças de lama mesmo em pleno Agosto num dia de escaldantes quarenta graus, se encontram casas algo luxuosas com varandas ornamentadas de onde pendem várias plantas, paredes meias com casas abarracadas contruídas em madeira e plástico e sem água canalizada. 

                             O contraste é a palavra de ordem quando quando nos referimos às ruas de Sutka

O contraste é o principal sentimento que temos ao passar nas sujas ruas de Šutka, a mais pobre cidade de toda a República da Macedónia, onde carros de alta cilindrada circulam ao lado de carroças puxadas por cavalos ou burros. Esma Redzepova, a mais famosa cantora da Macedónia, e uma da das mais famosas cantoras de etnia cigana na Europa, continua a viver em Šutka.

                                         Os mercados, as mesquitas, os carros e as carroças - Sutka

Alguns habitantes de Skopje, macedónios, deslocam-se ao mercado de Šutka no fim de semana da parte da manha. Aqui pode encontrar-se tudo desde produtos originais ou contrafeitos, de todos os tipos, desde roupas, dvds, e telemóveis a preços que baixam consideravelmente após uma negociação que pode processar-se em várias línguas, até em português.

                                      Fotografias tiradas durante uma caminhada pelas ruas da cidade 

Apesar de ser seguro caminhar em Šutka é melhor não ostentar nada de valor que traga consigo e principalmente perguntar se se pode fotografar antes de tirar fotografias que possam gerar algum tipo de descontentamento ou irritação às pessoas.


Como Chegar

Paragem do autocarro nº19 no centro de Skopje

Para chegar a Šutka desde Skopje é necessário apanhar o autocarro número 19 a partir do centro da cidade, ou então o número 20 à frente da estação de caminho-de-ferro. Os autocarros fazem a paragem terminal mesmo em frente do mercado de Šutka. Aventurar-se pelo resto da cidade pode não ser totalmente seguro. O autocarro para regressar a Skopje apanha-se exactamente no mesmo local onde este para anteriormente na chegada a Šutka. O percurso demora cerca de 20-25 minutos.