Wednesday, September 18, 2013

Prishtinë - Приштина

O Newborn inaugurado aquando da independência do Kosovo, 17 de Fevereiro de 2008


Com uma população de cerca de 200 mil pessoas, de maioria albanesa, Pristinë é a capital e a maior cidade do recém-independente Kosovo. A área onde se situa a cidade é habitada há mais de 10 mil anos de acordo com objectos arqueológicos descobertos recentemente nos subúrbios da cidade nomeadamente Gracanica. Depois de séculos de colonização albanesa e posteriormente Sérvia, Prishtinë é hoje uma cidade vibrante e energética capital de um Estado de maioria étnica albanesa à procura de um caminho marcadamente Europeu.



História


Estátua de Skanderbeu, a maior figura
da História nacional da Albânia
Durante a ocupação Romana dos Balcãs, após a conquista da Iliria no ano 168 a.c., a actual Pristinë era parte da província da Dardania. As tribos eslavas chegaram à cidade no século VI mas o nome Pristinë foi citado pela primeira vez em 1342 ao ser descrita como uma aldeia pelo Imperador Bizantino João VI. Todavia no decorrer dos séculos XIV e XV Pristinë desenvolveu-se como um importante centro mineiro e também comercial muito em parte devido à sua posição central na rota comercial dos Balcãs. No final da Idade Média a cidade começou a tornar-se famosa devido ao trabalho dos seus artesãos, quer em peles, quer também em metal, principalmente no fabrico de armaduras e armas.
A Grande Mesquita de Prishtine
Com a conquista Otomana dos Balcãs o Islão começou naturalmente a ser muito difundido na cidade, apesar da primeira mesquita de Pristinë datar ainda do final do século XIV. A nova religião proliferava quase apenas nos meios urbanos e por isso expandiu-se proporcionalmente com a urbanização do território durante a ocupação Otomana. Integrada no Sanjak, ou província, de Viçitirin, a população da cidade gozou de um período de grande estabilidade e de alguma prosperidade de acordo com as leis económicas do Império Otomano, ao mesmo tempo que o Islão passou a ser a religião de quase todos os habitantes da cidade.
No século XVII, durante a Guerra entre o Império Austro-Húngaro e o Império Otomano a população da cidade, liderada pelo padre católico Albanês e Bispo de Shkoder Pjeter Bogdani, ficou do lado dos Austríacos, que ocupariam a cidade pouco depois após a retirada dos Otomanos. Porém os Austríacos acabaram derrotados em 1690 e retiraram as suas tropas da cidade deixando toda a população à mercê das tropas Otomanas.

Casa tipicamente Otomana no centro de Prishtine (esq) Centro do Bazar turco de Prishtine (dta)

Pormenor da Mesquita de Jashar Pasha
Em 1874 quando o Império Otomano entrava já em declínio acentuado a cidade, devido a passar a estar incluída no traçado da linha férrea em construção entre Mitrovica e Tessalónica, foi promovida a sede de província em troca com a cidade de Prizren. No entanto esta situação privilegiada não duraria muito visto que em 1912, aproveitando-se do declínio do Império Otomano, as forças rebeldes albaneses asseguraram o controlo da cidade. Porém, ao conquistar a cidade de Prishtinë, no dia 22 de Outubro de 1912, o Reino da Sérvia impediu o plano da Grande Albânia e fez com que o território dos Balcãs conquistado aos Otomanos fosse dividido entre si e os três recém-independentes Estados dos Balcãs - Grécia, Bulgária, Montenegro. Mas em 1915, em plena I Guerra Mundial, a Bulgária, insatisfeita pelos territórios que lhe tinham sido atribuídos aquando da I Guerra dos Balcãs, conquistou a cidade de Prishtinë bem como toda a região do Kosovo. Assim a cidade ficou sob domínio Búlgaro até 1918 quando foi capturada pelas tropas francesas que a concedeu posteriormente à Jugoslávia no final da I Grande Guerra.

Complexo do mosteiro de Gracanica (esq) Igreja do Mosteiro de Gracanica (dta)

A torre do relógio Otomana 
Desde 1920 até ao inicio da II Guerra Mundial assistiu-se à colonização das terras do sul do Kosovo, por parte de população Sérvia, facto que levou a que as populações albanesa e turca fossem forçadas a deixar a região. No entanto assistiu-se à situação inversa a partir de Abril de 1941 quando a Jugoslávia cedeu finalmente às Forças do Eixo, facto que levou a que pouco tempo depois Mussolini juntasse o território do Kosovo ao da Albânia já sob ocupação italiana. A partir deste momento registaram-se massacres sob os colonos Sérvios que foram assim forçados a abandonar a região. Ainda antes do final da II Guerra Mundial após a capitulação da Itália Fascista Prishtinë foi temporariamente ocupada pela Alemanha Nazi que deportou a comunidade Judaica, conduzindo também ao êxodo de grande parte da população da cidade, levando a que esta descesse a cerca de 10 mil pessoas.
A construção da Catedral
Sérvia nunca foi terminada
A cidade reergueu-se da destruição causada pela II Guerra Mundial após a integração do Kosovo na Jugoslávia, principalmente a partir do momento em que o governo Comunista a escolheu como capital do Kosovo em 1947. Durante o esforço de reconstrução levado a cabo pelos Comunistas foram destruídas bastantes heranças da presença Otomana na cidade como várias mesquitas, o bazar, bem como várias casas Otomanas. Porém com todo o investimento da Jugoslávia na nova capital do Kosovo a sua economia bem como a população, que passo para o dobrou entre 1971 e 1981, mudaram rapidamente. Só o colapso financeiro e económico da Jugoslávia, a que se juntaram as revoltas dos estudantes em 1981, levaram a que Prishtinë, bem como todo o território do Kosovo, mergulhasse numa crise económica e social que incrementaram o desejo nacionalista da população albanesa causando directamente o aumento exponencial do nacionalismo Sérvio, que levou a que em 1989, já durante a presidência de Slobodan Milosevic, fossem impostas medidas que visavam reduzir a autonomia do Kosovo bem como afastar os cidadãos albaneses de todos os cargos ligados ao Estado.

Fotografias de várias ruas no centro da cidade de Prishtine (ambas as fotos)

Estátua da religiosa albanesa
Madre Teresa de Calcutá
Em 1996 começaram os ataques às forças Sérvias por parte do Exército de Libertação do Kosovo, porém estas acções não tiveram repercussão em Prishtinë até ao eclodir da Guerra, em Março de 1999. Apesar de não ter sido tão afectada como as cidades de Pec e Dakovica, que sofreram inúmeras baixas entre a população civil e saíram praticamente destruídas pelos bombardeamentos sérvios, Prishtinë devido à sua importância estratégica foi poupada apesar de alguns alvos militares atingidos pela NATO nos arredores da cidade. Porém a população da cidade viveu dias de grande violência com as forças Sérvias a cercarem diversos bairros onde procederam à deportação em larga escala de cidadãos Albaneses, para a fronteira da República da Macedónia, onde eram forçados ao exílio. Grande parte da população Albanesa optou por deixar o Kosovo de livre vontade para não sofrer às mãos das tropas Sérvias.

Cartazes às portas das instalações do governo com fotos de desaparecidos durante a Guerra do Kosovo (ambas as fotos)

Polícia Italiana a patrulhar as ruas de Prishtina
As primeiras tropas da NATO entraram em Prishtinë ainda em 1999, apesar de ironicamente terem sido as tropas Russas as primeiras a aterrar no aeroporto da cidade que a partir deste momento se transformou na sede da administração das Nações Unidas - UNMIK, passando a beneficiar muito da grande quantidade de pessoal internacional e fundos públicos e privados, muitos eram patrocinados pela grande Diáspora albanesa no mundo, que ali passaram a ser investidos. Este boom económico visível por exemplo na construção de inúmeros restaurantes e hotéis, cujo público alvo eram os expatriados a residir na cidade, foi o inicio de uma nova era numa cidade nova, Prishtinë, e num país ainda mais novo, o Kosovo.



Diário de Viagem


Estátua de Bil Clinton 
A primeira vez que visitei Prishtinë foi  em 2010 e vi uma cidade orgulhosa da independência do país de que é capital. Tratava-se porém de uma cidade pobre e em reconstrução e com muito poucas ruas asfaltadas. Mas ao voltar à cidade por diversas vezes quer em 2011 quer em 2012 vi uma cidade um pouco diferente, com mais ruas asfaltadas, com mais organização e limpeza, e com muito menos pobreza.
A principal artéria de Prishtinë é a bulevardi Nene Tereza que nos leva, no sentido norte, à também importante rua Agim Ramadani, já bem próxima dos edifícios do governo, onde à porta a população tem colocado fotografias de pessoas ainda desaparecidas desde a Guerra do Kosovo, e no sentido sul, à bulevardi Bill Klinton em direcção à estação de autocarros bem como ao aeroporto.

Cartaz de Ibrahim Rugova, primeiro presidente do Kosovo (esq) Teatro Nacional do Kosovo (dta)

Edifício do Museu Nacional do Kosovo
Os principais pontos a visitar na cidade encontram-se todos na área do bazar turco, como a Grande Mesquita, ou Mesquita do Sultão Mehmet Fatih, que construída em 1461 é a principal herança do legado do Império Otomano na cidade. Esta mesquita chegou a ser convertida numa igreja católica durante a ocupação austro-húngara da cidade. Na mesma área podemos encontrar outros monumentos Otomanos como a Mesquita Jashar Pasha, a Torre do Relógio, bem como o Grande Haman ou Banho Turco. Existem ainda na área do Bazar dois edifícios que convém visitar. O primeiro é o Museu do Kosovo, situado num edifício de estilo arquitectónico marcadamente austro-húngaro, construído durante a ocupação da cidade por este Império, e o segundo é a Academia de Ciências e Arte situada num edifício de estilo marcadamente balcânico.

Três minaretes saltam à vista no meio do transito de Prishtina (esq) Bancas de frutas no bazar da cidade (dta)

Bem no centro da cidade encontra-se o Grand Hotel, o único que sobreviveu à Guerra do Kosovo, apesar de existiram já melhores hotéis na cidade, continua a ser um marco de Prishtinë, usado pelos locais como local de encontro, até pela sua localização central. Também aconselho visitar o edifício da Biblioteca Nacional cuja construção foi concluída em 1982 segundo o original e algo arrojado projecto do arquitecto croata Andrija Mutnjakovic.

                Edificio do emblemático Grand Hotel de Prishtine (esq) Edificio da Biblioteca Nacional do Kosovo (dta)

Igreja do mosteiro de Gracanica
O local que mais gostei de visitar durante as minhas visitas a Prishtinë chama-se Gracanica, e encontra-se curiosamente já fora dos limites da cidade, a cerca de 10 quilómetros a sul do rio Ibar, que cruza a cidade embora esteja actualmente coberto. Gracanica é um pequeno enclave Sérvio construído em redor do histórico mosteiro como mesmo nome, que construído em 1321 pelo Rei Sérvio Milutino é um dos principais monumentos da Ortodoxia da Sérvia. Chegar ao local implica apanhar o autocarro em Prishtinë com destino a Gjilan, através da estrada para Skopje, pedindo ao motorista que nos deixe em Gracanica, que fica mais ou menos a meio caminho, ao que este pode, ou não, aceder, visto que frequentemente autocarros albaneses são apedrejados pelos sérvios aquando da sua paragem no enclave.
Interior da Igreja de Gracanica
No meu caso, tendo visitado o local por duas vezes, não tive qualquer problema sendo que no caminho de regresso tive sempre de fazer cerca de 1 quilómetro a pé visto os autocarros com destino a Prishtinë não pararem dentro do enclave com cerca de dez quilómetros quadrados onde se situam 15 pequenas aldeias. Chegando ao mosteiro é necessário mostrar o passaporte aos soldados da KFOR que patrulham o monumento antes de poder entrar no seu interior de rara beleza, tanto a igreja como todo o complexo do mosteiro em  redor onde habitam as freiras Ortodoxas Sérvias. No exterior existe uma pequena loja onde podemos adquirir itens religiosos como o "Kosovo Cruxificado" cuja imagem mostra locais sagrados sérvios danificados ou destruídos durante conflitos.


Complexo do Mosteiro de Gracanica onde residem as religiosas Ortodoxas Sérvias (ambas as fotos)

A atmosfera positiva e energética que se vive em Prishtinë é oposta em Gracanica um local que a Guerra do Kosovo transformou num enclave de tristeza e isolamento. Hoje vivem isolados em Gracanica cerca de 11 mil Sérvios, a maior parte deles refugiados oriundos de Prishtinë, rodeados de cartazes de propaganda política Sérvia, bancos internacionais que operam em moeda Sérvia, uma escola primária reconstruida após a guerra, uma esquadra de polícia que emprega staff albanês e internacional que não fala a língua Sérvia, um centro de saúde, bem como quintas de produção agrícola que servem uma população maioritariamente rural.
Bandeira Albanesa no
cento de Prishtina
O facto do enclave ser visto ainda hoje como uma ameaça pelos nacionalistas Albaneses significa que apesar da estabilidade e aparente prosperidade da capital Prishtinë, onde existe uma vibrante nightlife bem como uma imensidão de restaurantes e cafés de luxo destinadas à clientela expatriada bem como à classe alta albanesa, as tensões étnicas e sociais não estão ainda bem resolvidas no Kosovo principalmente no que concerne à gestão da situação dos cidadãos Sérvios que permanecem no território isolados em pequenos enclaves. Numa tentativa de lidar com a situação o governo do país declarou o enclave de Gracanica bem como o de Mitrovica como municípios em 2008, e, apesar de esta medida não ter sido reconhecida pelo Governo da Sérvia que continua a considerar o Kosovo como parte integrante do seu território, os cidadãos de Gracanica foram às urnas e elegeram o seu autarca. Do lado Sérvio o governo nacional continua a investir e a prometer mais investimento para cada um dos enclaves que considera parte do seu território e como tal são ali montadas mesas de voto durante as eleições da Sérvia.

                                    Bandeiras Sérvias no enclave de Gracanica (esq) Cartazes de propaganda anti-EU em Gracanica (dta)

Monumento Newborn em honra à
 independência do Kosovo
Caso nos interessemos por política ou geografia política europeia vale bastante a pena visitar Prishtinë, uma cidade que tenta trilhar o seu caminho apontado pela independência de uma nação jovem que se identifica em tudo com os valores da vizinha Albânia de onde são originários mais de 90% dos seus habitantes que vivem lado a lado com uma vasta comunidade internacional que impediu, e em certos pontos do país continua a impedir, uma ainda pior situação para a já pouca população Sérvia que continua a residir no território embora confinada a pequenos espaços e pouca liberdade.


Como Chegar

Alfandega da fronteira Kosovo - Macedónia
Embora a linha férrea do Kosovo esteja ainda desactivada devido aos danos sofridos durante a guerra que assolou o país, Prishtinë está ligada por estrada a todas as capitais dos Balcãs. É possível viajar de autocarro até Prishtinë desde Skopje, Belgrado, Podgorica, e Tirana, capitais da República da Macedónia, Sérvia, Montenegro e Albânia, respectivamente. Para entrar no território do Kosovo sem visto é preciso estar na posse de um passaporte válido pertencente a um dos Estados-membro da União Europeia. Não é válido o bilhete de identidade, ao contrário dos outros países dos Balcãs.

Monday, September 9, 2013

Tessalónica - Θεσσαλονίκη

A Torre Branca é talvez o monumento mais icónico da cidade de Tessalónica


A cidade foi fundada cerca de 315 a.c. pelo Rei Cassandro da Macedónia em honra da sua mulher a Rainha Tessalónia, meia-irmã de Alexandre, o Grande e tornou-se depois a cidade mais importante de todo o Reino da Macedónia. Cidade de castelos, torres, velhas ruínas e catacumbas e um verdadeiro museu ao ar livre de arte Bizantina, Tessalónica é nos dias de hoje a segunda maior cidade da Grécia depois da capital Atenas, bem como a mais importante cidade da região da Macedónia.



História

Após a queda do Reino da Macedónia, em 168 a.c., a cidade tornou-se uma cidade livre no seio de uma República Romana durante o reinado do Imperador Marco António em 41 a.c. convertendo-se num importante pólo comercial da rota da Via Egnatia, a estrada que ligava Dyrrachium, actual Durres, com Bizancio, actual Istambul.

O Arco de Galerius data do século IV (esq) Muralhas do castelo de Tessalónica - sec IV (dta)
Eptapyrgio, erguido na Acrópole
Com a queda de Roma em 476 Tessalónica tornou-se na segunda maior cidade do Império Bizantino e num importante centro de difusão do Cristianismo, o Primeiro Epistolo aos Tessalónicos escrito pelo Apóstolo Paulo foi o primeiro livro do Novo Testamento.
Desde os primeiros dias do Império Bizantino a cidade de Tessalónica foi considerada a segunda cidade do império depois de Constantinopla quer em termos de riqueza quer em termos de tamanho.
A cidade manteve este estatuto até ter sido transferida para a autoridade de Veneza em 1423.
No século IX os missionários gregos Bizantinos Ciril e Metódio, ambos nascidos na cidade, criaram o primeiro alfabeto eslavo, baseado nas línguas que se falam nos arredores da cidade após as invasões eslavas no século anterior. Tessalónica deixou de estar sob controlo Bizantino em 1204 ano em que Constantinopla foi capturada pela Quarta Cruzada e incorporada no Reino de Tessalónica, um reino aliado do Despotado do Epiro, um das três facções originadas na sequência da queda do Império Bizantino, do qual acabou por se tornar capital durante o período em que ficou conhecido como Império de Tessalónica. 

                       Panorama sobre o mar visto desde o Eptapyrgio (esq) Interior das catacumbas de Agios Ioannis Prodromos (esq)

Interior da Rotunda de Galerius
Em 1423 a cidade foi cedida à República de Veneza na tentativa de assegurar a protecção face aos Otomanos que estavam em vias de cercar a cidade. Os Venezianos conseguiram controlar a cidade até esta ter sido capturada pelos Otomanos, em 1430, na sequência de uma acção brutal de pilhagem que resultou na fuga de muitos habitantes. Porém a passagem de Tessalónica para domínio Otomano não afectou o grande prestigio da cidade como importante pólo comercial no Império Otomano em termos de industria de navegação embora esta fosse controlada por cidadãos gregos. Durante o período Otomano as populações judaicas e muçulmanas cresceram no Sanjak de Selanik, cuja capital era Tessalónica, facto bastante impulsionado pela vontade dos Otomanos em prevenirem-se das ambições dos cidadãos gregos em controlar a cidade. Em 1500 a população da cidade cifrava-se em cerca de 8 mil Gregos, 8500 Muçulmanos e cerca de 4 mil Judeus. Nas últimas décadas sob domínio Otomano, principalmente em meados do século XX, Tessalónica tornou-se num centro de actividades subversivas levadas a cabo por vários grupos radicais e anarquistas que colocaram bombas em vários edifícios da cidade incluindo o Banco Otomano.

                       O bairro que sobe até à antiga Acrópole e ao Eptapyrgio era chamado durante a ocupação Otomana de Yedi Kule

As muralhas Otomanas da cidade
Com o eclodir da I Guerra dos Balcãs a Grécia declarou guerra ao Império Otomano e expandiu as suas fronteiras, facto que ficou a dever-se bastante à acção do Primeiro Ministro Eleftherios Venizelos ao optar por mandae avançar o exército para Tessalónica em detrimento da cidade de Monastir, actual Bitola, na República da Macedónia. Em 1912 os Otomanos renderam-se aos Gregos, apesar dos Búlgaros também reivindicarem a cidade. Depois da II Guerra dos Balcãs a cidade de Tessalónica bem como resto das regiões gregas na Macedónia  foram oficialmente anexadas pela Grécia através do Tratado de Bucareste assinado em 1913. 
Na I Guerra Mundial os Aliados fundaram uma base na cidade o que deu origem à Frente da Macedónia local a partir de onde os Gregos com o apoio dos Aliados lançaram o Movimento de Defesa Nacional, liderado por um governo temporário pro-aliado chamado Estado de Tessalónica, que encetou uma acção de conquista de novos territórios anexados pela Grécia durante as Guerras dos Balcãs, a maior parte na Macedónia e no Norte da Grécia mas também no Norte do Egeu, como a Ilha de Creta. 
                                            Interior da Igreja de Agia Sofia, séc VIII (esq) Interior da Igreja de São João Baptista  (dta)

Pequena embarcação ancorada na costa
Em 1917 na sequência da abdicação do Rei Constantino do Estado de Atenas, o Estado de Tessalónica foi desmantelado e os dois governos opositores acederam a juntar-se sob autoridade de Venizelos criando uma Grécia unida. Após a derrota da Grécia na Guerra Greco-Turca e na sequência do desmembrar do Império Otomano foram levadas a cabo trocas de população entre a Grécia e a Turquia. Mais de 160 mil Gregos foram deportados de várias partes do território do antigo Império Otomano e acolhidos na cidade que deportou simultaneamente cerca de 20 mil muçulmanos para a Turquia. 
A Torre Branca é o maior ícone da cidade
Na II Guerra Mundial Tessalónica foi fustigada por bombardeamentos da Itália Fascista e anexada pela Alemanha Nazi em 1941 e apenas foi libertada pelas tropas Gregas em 1944. A cidade foi a última a ceder ás forças da Alemanha Nazi, e o palco do nascimento do primeiro grupo de resistência Grega com o nome Ελευθερία, liberdade, e também foi aqui que se publicou o primeiro jornal anti-Nazi emitido num território sob ocupação Alemã. Todavia, apesar da destruição causada pela II Guerra Mundial, muitos dos tesouros da cidade subsistiram, e após as obras de reconstrução Tessalónica voltou a ser um dos principais pólos industriais dos Balcãs nas década de 1950.



Diário de Viagem


Vista desde a antiga Acrópole da cidade
Visitei a cidade de Tessalónica em Maio de 2012 oriundo da capital Atenas. Trata-se de uma cidade costeira construída sobre várias colinas, e que, por misturar o carácter de uma moderna metrópole com o carácter histórico e cosmopolita transforma-se numa cidade algo especial e com alguns pontos em comum com Lisboa. Foi uma das cidades mais importantes do mundo antigo e o centro do Antigo Reino da Macedónia, na época em que viveu uma das figuras históricas mais conhecidas, Alexandre o Grande. Dessa época existem ainda muitos vestígios no fantástico museu arqueológico da cidade inaugurado em 1962, onde se pode viajar pela história da antiga Macedónia através de artefactos que remontam ao século IV a.c.. Sem dúvida um dos mais impressionantes museus arqueológicos que tive oportunidade de visitar durante as minhas viagens na Grécia.
O Minarete da Rotunda
Por toda a cidade estão espalhados sítios arqueológicos como por exemplo o antigo fórum, ou ágora, com as suas praças e pórticos, que datam do século II. Existem ainda ruínas das antigas termas e do hipódromo, bem como de vários templos. Porém o que mais apreciei visitar foi o complexo do antigo palácio do Imperador Romano Galério Maximinano, cuja construção remonta ao século IV. Neste complexo é possível observar o Arco do Triunfo erguido no ano de 305 para comemorar os sucessos militares Romanos principalmente nas províncias do Leste do Império, bem como a Rotunda de Agios Georgios, ou São Jorge, construída com o propósito de servir como Mausoléu de Galério Maximiliano, e hoje um dos mais imponentes monumentos da cidade. O templo passou depois a ser uma igreja durante mais de 1000 anos até ser convertido numa mesquita durante a ocupação Otomana de Tessalónica, como atesta a existência do Minarete anexado ao edifício, construído durante essa época.
Umas das mais antigas entradas da cidade
Durante a sua presença na cidade os Otomanos recuperaram muitos dos monumentos no seio da mesma como o castelo e as muralhas, que construídas em tempos remotos com o objectivo de fortificar a cidade, embora a sua construção final date já da era de Teodósio o Grande, encontravam-se já num avançado estado de deterioração. No complexo da Acrópole, erguida em tempos imemoriais, talvez com o objectivo de albergar os habitantes da cidade em caso de invasões inimigas, hoje podemos encontrar o Eptapyrgio, uma fortaleza cuja construção data do século XIV e que conta ainda hoje com sete torres. Este monumento foi também foi remodelado e reconstruido pelos Otomanos após a tomada da cidade em 1430 passando a chamar-se Yedi Kule e a ser utilizado como prisão. Também durante a ocupação Otomana foram construídos monumentos como as mesquitas de Hamza Bey Cami, Aladja Imaret Cami e Yeni Cami, bem como o Bezesteni, um edifício que hoje funciona como um mercado de roupa.
A Torre Branca situa-se na baixa da cidade
Construída durante a ocupação Otomana sobre as ruínas de uma antiga torre bizantina na antiga praia de Tessalónica, a Torre Branca é talvez a maior marca da cidade. Ao longo da sua história o monumento foi conhecido primeiramente por Torre dos Leões, e durante a ocupação Otomana era intitulado Torre do Sangue, devido ao sangue derramado pelos condenados à morte que ali eram torturados pelos Otomanos. Foi encerrada em 1878 para que fossem efectuadas obras de restauro que incluíram a "lavagem" da pedra do monumento, que hoje lhe vale o nome de Torre Branca. Actualmente os seus seis pisos estão abertos ao público albergando uma exposição de artefactos cristãos, que datam de entre o ano 300 e 1430, maioritariamente oriundos da cidade.

                                      A marginal de Tessalónica é um dos locais mais frequentados pelos habitantes da cidade (ambas as fotos)

Após a visita da Torre Branca pode percorrer-se a marginal da cidade que conta com inúmeros restaurantes, cafés e bares onde se pode degustar algumas iguarias da gastronomia local. Ao olhar na direcção da linha do horizonte é possível avisar-se o Monte Olimpo, o lar dos Deuses da Mitologia Grega, cujos quase três mil metros se erguem a cerca de cem quilómetros de distancia de Tessalónica, no outro lado da Tessália.
Interior da Igreja de São João Baptista
Outras grandes atracções da cidade são sem dúvida os seus inúmeros monumentos de arte Bizantina, sendo esta chamada por vezes de um museu ao ar livre deste tipo de arte. Além do museu da cultura Bizantina, um dos mais importantes museus de toda a Grécia, templos como a pequena Igreja de Panaghia Chalkeon construida em 1028, bem como as Igrejas de Acheiropoietos, Santa Sofia, São Panteleimon, Agios Ioannis Prodromos, que datam de séculos V, VII, XII e XIII respectivamente, são também verdadeiros cultos à arte Bizantina que devem ser visitados.

                           Os Cristaos Ortodoxos visitam a cripta onde tomam a Agiasma, ou Água Santa, que os previne de todos os males (todas as fotos)

A cripta da Igreja de Agios Dimitris é a mais famosa mas visitei também a cripta da Igreja de São João Baptista escavada sob o solo da pequena igreja com o mesmo nome, situada bem próxima da monumental Igreja de Santa Sofia, bem no centro da zona histórica da cidade. Pensa-se que estas catacumbas tenham sido escavadas para a construção de um antigo templo pagão que ao ser descoberto pelos Cristãos, foi por estes aproveitado para que se escondessem dos Romanos que os perseguiam continuando assim a prestar o culto a Deus. Com o final da perseguição dos Romanos ao Cristãos, foi erguida, por estes últimos, nestas catacumbas, um baptistério que se crê ter sido o local de baptismo de Teodósio, o Grande, aquando da passagem deste pela cidade. Hoje esta pequena igreja é visitada por centenas pessoas duas vezes por ano, no dia do nascimento de São João Baptista bem como no dia da sua morte por decapitação.

                   Os dois edifícios mais emblemáticos da Praça Aristóteles sao o Olympion e o Electra, construídos nos anos 50 e 60 respectivamente

A Praça Aristóteles é a única parte da cidade onde foi implementado o plano arquitectónico do Francês Ernest Hébrard elaborado após os terríveis incêndios que assolaram a cidade em 1917 deixando desalojadas mais de 70 mil pessoas. Porém devido a fortes interesses de privados o plano de reconstrução da cidade não foi avante daí a Praça Aristóteles ser o único exemplo na cidade da combinação dos estilos arquitectónicos Bizantino e Europeu Ocidental. Hoje em dia, a Praça de Aristóteles é uma praça como qualquer outra de uma grande cidade europeia, recheada de lojas, bancos, cafés, restaurantes e hotéis,
Rua do bairro de Ladadika
A cidade de Tessalónica não tem porém um estilo de arquitectura definido já que nos deparamos com exemplos de arquitectura Bizantina conjugados com edifícios Otomanos, edifícios Neo-Clássicos do século XVIII, como os da Avenida Vasilissis Olgas, e também vários tipos de construções humildes erguidas pelos refugiados que chegaram à cidade na sequência das trocas populacionais operadas na zona da Ásia Menor entre os Estados recém-independentes da Turquia e da Grécia.
Outra grande atracção da cidade são os seus mercados tradicionais como o de Kapani, Vlalis, e principalmente o Mercado de Modiano que se situa no interior de um edifício de 1922 com um telhado de vidro.


Como Chegar
Rua da parte alta da cidade de Tessalónica

Desde 1888 ligada por caminho-de-ferro à Europa Central via Belgrado e ao Oriente via Istambul, desde 1896, a cidade de Tessalónica é hoje ainda de mais fácil acesso do que Atenas. De comboio há viagens directas para Sófia, além de Belgrado. Existe também uma rede de autocarros com destino a diversas cidades da Grécia e dos Balcãs bem como alguns destinos da Europa Ocidental. Existe também um aeroporto internacional em Tessalónica de onde operam voos algumas companhias aéreas lowcost.