Wednesday, August 29, 2012

Shkodër - Shkodra

Rua pedonal de Kol Idromeno no centro de Shkoder


Shkodër é uma das cidades mais antigas e históricas da Albânia e também dos Balcãs Ocidentais talvez devido à sua posição estratégica próxima do Mar Adriático e consequentemente dos portos Italianos. Outra das razões que tornaram a cidade importante ao longo da sua história é a sua proximidade face ao Lago Shkodër, o maior dos Balcãs, que a Albânia partilha com o Montenegro. Tal como outras cidades da Albânia, foram muitos os povos que dominaram Shkodër, desde os Romanos, Bizantinos, Sérvios, Búlgaros,Venezianos, e até Áustro-húngaros.
 

História

Shkodër era conhecida como Scodra na antiguidade e foi a primeira capital do primeiro reino da tribo Iliria de Ardiaei no século III a.c. A cidade foi a capital do reino do Rei Ilirio, Gentius, até ser capturada pelos Romanos no ano 168 a.c. tornando-se um ponto muito importante nas rotas comerciais e militares Romanas. Com a colonização da cidade pelos Romanos, esta permaneceu nos primeiros tempos integrada na província de Illyricum sendo mais tarde incorporada na província da Dalmácia
Catedral Ortodoxa de Shkodër
Foi durante o período da Idade Média que os povos Eslavos começaram a chegar à cidade, tendo o Imperador Bizantino, Heráclio, concedido um território aos Sérvios nos Balcãs Ocidentais, no qual estava incluída a cidade de Shkodër, logo na primeira metade do século VII
O Estado Sérvio desintegrar-se-ia após a morte do Príncipe Časlav no ano de 960 e seria anexado posteriormente por Khan Samuel, que no ano de 997 tinha já conquistado toda a região da Tessália, o Epiro, a Macedónia, forçando depois Jovan Vladimir, sucessor do Príncipe Časlav, a submeter-se ao domínio Búlgaro, que seria pouco depois substituído pelo do Império Bizantino.
Os Sérvios voltaram a dominar a cidade até a queda do Império Sérvio, no século XIV, a cidade ficou sob controlo da família Balsic e posteriormente do albanês Leke Dukagjini, que se rendeu aos Venezianos.

Após duas poderosas ofensivas, em 1474 e 1479, os Otomanos liderados por Mehmet "O Conquistador" conseguiram assegurar o domínio da cidade que passou a sede de sanjak em 1485. No entanto, a conquista de Shkodër não foi nada fácil com os Otomanos que sofriam pesadas baixas cada vez que tentavam invadir o castelo, tendo assim de cercar a cidade bombardeando-a constantemente de forma a desgastar a moral dos seus habitantes. De forma a resolver a situação os Otomanos optaram por fazer um acordo com os Venezianos que pôs finalmente fim ao conflito permitindo aos cidadãos que largassem as armas ficando os Otomanos com o controlo da cidade.

Vista a partir do castelo de Rozafa (esq) Ruínas no interior das muralhas do castelo de Rozafa (dta)

Interior da mesquita de Ebu Bekr
Durante a ocupação Otomana, até ao principio do século XX, Shkodër foi uma importante cidade do Sul da Europa, nomeadamente devido à sua muito importante posição geográfica relativamente ao Mar Adriático e aos portos das cidades italianas, e também devido às rotas terrestres que a ligavam à cidade de Prizren, um dos maiores importantes centros Otomanos nos Balcãs.
A importancia da cidade fez com que outros países começassem a abrir consulados em Shkodër desde 1718, e que os próprios Otomanos alterassem o estatuto da cidade de sanjak para vilayer - um sanjak era uma unidade administrativa otomana menor do que um vilayet. İşkodra, nome Otomano de Shkodër era um sanjak de Rumelia Eyalet desde a época de Murad I, até 1867, ano em que os Otomanos optaram por juntar os sanjaks de İşkodra e de Üsküp, nome Otomano de Skopje, formando o vilayet de Shkodër, que se passou a dividir nos sanjaks de Shkodër, Prizren e Dibra. Com o assegurar do domínio Otomano na cidade, em meados do século XVII, um grande número de cristãos deixaria a cidade que entretanto prosperaria a nível económico, através da produção de artefactos de seda e de prata bem como armas, e cultural, através da construção de monumentos como mesquitas e outros edifícios dos quais alguns chegaram até hoje.


Fachada da Mesquita de Ebu Bekr (esq) Fachada do museu de história da cidade de Shkodra (dta)
 
O período do despertar do nacionalismo albanês com a Liga de Prizren e a formalização da luta pela libertação, foi também o período em que a população de Shkodër se começou a envolver directamente na luta pelas terras albanesas, envolvimento este que culminaria com a perda de 150 mil vidas até à consumação da independência.
Rua de Shkoder
Durante as Guerras Balcânicas a cidade passou de uma ocupação para outra, sendo que os Otomanos foram derrotados pelos Montenegrinos que se aliaram aos Sérvios tomando depois a cidade em 1913. Os Montenegrinos foram no entanto forçados a libertar a cidade que em Maio de 1913 foi considerada como sendo parte do recém-criado Estado Albanês durante a Conferência de Londres.
Porém a I Guerra Mundial colocaria outra vez a cidade sob domínio estrangeiro, primeiro foram de novo as tropas Montenegrinas a conquistar Shkodër em Junho de 1915 onde permaneceram até Janeiro de 1916, quando foram derrotadas pelo Exército Áustro-húngaro que transformou a cidade na mais importante de todas as que detinham em sua posse nos Balcãs.
Após o culminar da I Guerra Mundial a administração militar internacional da Albânia esteve temporariamente localizada em Shkodër passando apenas a ser administrada a nível nacional pelo governo sediado em Tirana em 1920, altura em que os Sérvios tentaram, sem sucesso, uma vez mais invadir a cidade.
  
Exemplos da arquitectura comospolita do Império Áustro-húngaro em Shkoder (todas as fotos)

Durante o período de regime Comunista a cidade acabou por perder um pouco do seu carácter religioso nomeadamente cristão, visto a cidade ser sede de uma diocese católica, antes do Comunismo. A cidade voltou a estar muito activa politicamente nos anos 1990 sendo palco de um dos maiores movimentos democráticos em todo país, que muito contribuiu para o fim do já muito enfraquecido regime Comunista liderado por Ramiz Alia, o sucessor de Enver Hoxha.


Diário de Viagem

Após o período Comunista a cidade passou por um período de reabilitação urbana como sucedeu por exemplo em Tirana, com as ruas a serem pavimentadas, os edifícios pintados e as ruas a verem os seus nomes mudados.

Teatro Migjeni em Shkoder (esq) Praça da Democracia (dta)

Visitei Shkodër vindo de Tirana num fim de semana no final de Maio de 2012 e passei dois dias nesta cidade muito próxima da fronteira com o Montenegro.
 
Exemplos da ruas antigas no centro da cidade de Shkoder (todas as fotos)

Surpreendeu-me a muito bonita zona da rua pedonal de Kol Idromeno, uma zona de arquitectura Áustro-húngara, cuja existencia na Albânia era por mim desconhecida. Esta zona, além da sua beleza, é uma zona com muita animação noturna com os seus bares e restaurantes.

A rua pedonal de Kol Idromeno, de arquitectura Áustro-húngara, é dos locais mais bonitos de Shkoder (todas as fotos)

A cidade de Shkodër é uma cidade maioritariamente católica,  no entanto a moderna mesquita de Ebu Bekr é um monumentos que também se podem visitar na cidade.
A mesquita de Ebu Bekr (esq) O edifício da Camara Municipal da cidade (dta)
 
Junto à Praça da Democracia situam-se os grandes edifícios de arquitectura comunista, como o edifício da Rádio e principalmente o Hotel Rozafa, local de reuniao dos membros mais importantes do Partido Comunista na cidade, e ainda hoje aberto ao público embora em condiçoes algo decrépitas.
O castelo de Rozafa é visitável e proporciona uma óptima vista para a cidade e principalmente para o Lago Shkodër.

Edificio da Rádio Shkoder, e Hotel Rozafa, um dos expoentes da arquitectura do período comunista na cidade

A melhor forma de acabar o dia na cidade de Shkodër é fazendo uma caminhada pelas ruas adjacentes á rua Kol Idromeno, sentarmo-nos a tomar uma bebida ao mesmo tempo que podemos observar a monumental arquitectura Áustro-húngara.


Como Chegar 

Chegar a Shkodër não é uma tarefa dificil a partir de Tirana, onde existem muitos autocarros e minivans desde as 7 da manha até às 5 da tarde, com um custo de cerca de um euro. A viagem dura cerca de duas horas.

Praça da Democracia, principal praça da cidade de Shkodra, e onde param os autocarros e minivans provenientes de Tirana

Também é possivel chegar a Shkodër a partir do Montenegro, apanhando um táxi até à fronteira, ou um autocarro até à cidade de Ulcijn, que embora se situe no Montenegro è habitada por uma população maioritariamente albanesa. Existem dois autocarros por dia e o preço do bilhete é de 5 euros.

Monday, August 27, 2012

Tiranë - Tirana

Praça Skanderbeg, a zona mais central de Tirane

Tirana é a capital e a maior cidade da Albânia. A cidade dos dias de hoje foi fundada pelos Otomanos no ano de 1614 apesar de a área onde se situa ter sido continuamente habitada desde a antiguidade. A cidade viveu sempre grande agitação na esfera política desde a sua declaração como capital até ao começo do regime Comunista, a cidade viveu as ocupações Sérvia e Italiana e as lutas que daí advieram, uma tentativa de golpe de Estado em 1924 por Fan Noli, a coroação de um Rei, Zog I em 1928 e até uma tentativa de regicídio, contra Victorio Emanuelle II de Itália. Tirana é hoje em dia uma cidade em desenvolvimento e à procura de uma identidade europeia.


 História

A área ocupada pela cidade de hoje estima-se que tenha sido habitada desde a antiguidade, no entanto e estranhamente aqui não existem grandes vestígios da presença Iliria, ao contrário do verificado na maior parte das cidades do território albanês, deixando antever que não se trataria de mais que uma pequena aldeia. A descoberta mais antiga, além de vestígios da época paleolítica, foi desenterrada no centro de Tirana e trata-se de uma antiga villa Romana do século III posteriormente transformada, ainda na época Romana, numa igreja da qual até hoje se conservaram os mosaicos do chão ainda hoje visitáveis. Outro dos vestígios mais antigos que se encontra aberto ao público trata-se de uma muralha outrora parte de um castelo mandado construir pelo Imperador Justiniano no ano 520, e restaurado por Ahmed Pasha Toptani no século XVIII.


Muralhas do antigo castelo de Justiniano (esq) Mosaicos de Tirana (dta)

A evolução demográfica da cidade de Tirana foi bem lenta, visto contar apenas com 4 mil habitantes no ano de 1703 número que triplicaria, para 12 mil habitantes, no ano de 1820. No entanto as primeiras estatísticas efectuadas após a cidade ter sido declarada capital indicaram uma população de 10845 pessoas. Na década de 50 a cidade passou por um rápido crescimento industrial acompanhado por um rápido aumento populacional, 137 mil pessoas. 
Castelo de Petrela nos arredores de Tirana
No entanto o grande boom populacional foi após o fim do regime comunista, em 1991, com a população a duplicar, para cerca de meio milhão de habitantes, face ao ano anterior. Com o fim do regime e da consequente interdição de mudar de cidade de residência,  verificou-se um enorme êxodo rural com muita da população rural de áreas interiores do país a transferir-se para a capital à procura de melhores condições de vida.
Foi em 1614 que o governador desta área dos domínios Otomanos Sulejman Bargjini construiu uma mesquita, um típico bazaar e as instalações de um hamann ou banhos turcos, fundando assim a cidade de Tirana que chegou até hoje. A cidade foi crescendo e desenvolvendo-se passando posteriormente a fazer parte das rotas das caravanas que passavam pelos Balcãs, atingindo o auge do seu desenvolvimento no principio do Século XIX, altura em que começou a ser construída a mesquita de Et'hem Bey, a única das existentes na cidade que sobreviveria aos anos de regime comunista.

Em cima: A fachada da mesquita de Et'hem Bey de dia (esq) A fachada da mesquita de Et'hem Bey de noite (dta)
Em baixo: O Interior da mesquita de Et'hem Bey (esq) As arcadas do exterior da mesquita de Et'hem Bey (dta)
A mesquita de Et'hem Bey foi construída por Molla Bey, oriundo da cidade de Petrela, que contou com o trabalho dos melhores artesãos do país. A construção da mesquita ficou concluída apenas em 1821 já pelo filho de Molla Bey.


Ura e Tabakëve - Ponte Otomana em Tirana
A multiculturalidade religiosa que ainda hoje é uma das mais vincadas características da cidade teve início em 1800, ano em que os primeiros habitantes cristãos chegaram a Tirana. Estes cristãos tratavam-se de valáquios, o povo antepassado dos romenos, oriundos das distantes cidades de Korçë e de Pogradec
Porém apesar do seu crescimento a importância da cidade continuava a não ser muita no interior dos domínio Otomanos, embora tivesse deixado de depender quase exclusivamente da família Toptani de Krujë passando a integrar o recém criado Vilayet de Shkodër e também o Sanjak de Durrës.
O nacionalismo albanês que ficou consumado com o primeiro hastear da bandeira albanesa por Ismail Qemali no dia 28 de Novembro de 1912 em Vlorë não livrou a cidade de Tirana da ocupação Sérvia durante as Guerras Balcânicas, dando no entanto, força aos seus habitantes para que estes participassem nas revoltas das aldeias vizinhas lideradas por Haxhi Qamili. A crescente importância da cidade fez com que após a I Guerra Mundial, Tirana fosse declarada capital da Albânia durante o Congresso de Lushnjë.

O maior mercado de frutos e vegetais de Tirana - Pazar i ri (ambas as fotografias)
 
O primeiro traçado moderno da cidade foi pensado por arquitectos Austro-húngaros em 1923 sendo o centro de Tirana, onde se localizam os edifícios dos ministérios, projectado por Florestano de Fausto e Armando Brasini ambos conhecidos arquitectos em Itália durante a época de Benito Mussolini, sendo as obras concluídas entre 1930 e 1940, em pleno período de luta entre albaneses e as forças invasoras. O clima de tensão na cidade apenas abrandou com a assinatura do Pacto de Tirana entre a Itália Fascista e a Albânia em 1939, embora o Pacto tivesse culminado na nomeação pelos fascistas de um governo albanês de fantoches. Nos anos que se seguiram os italianos continuaram a construir em grande escala em Tirana, sendo Gherardo Bosio o arquitecto nomeado para planear a área onde se situa a segunda maior praça da cidade, Nene Tereza.

Bulevardi Nene Tereza - A maior avenida de Tirana é uma das ruas projectadas e construídas pelos Italianos
A fundação do Partido Comunista da Albânia por Enver Hoxha fez com que na cidade os comunistas se começassem a mobilizar e a difundir propaganda ideológica no sentido de angariar mais membros para sua causa, primeiro a luta contra a Itália Fascista e posteriormente contra a Alemanha Nazi.
No dia 17 de Novembro de 1944 as forças invasoras libertaram a cidade de Tirana após uma violenta batalha entre as forças Comunistas albanesas e as forças Nazis da Alemanha, deixando um vazio de poder que seria ocupado pelos Comunistas liderados por Hoxha.


Exemplos de monumentos comunistas:
Monumento ao Soldado Desconhecido Partidário (esq) Monumento em honra de Fan Noli escritor educado em Harvard (dta)

Durante o regime Comunista, entre 1944 e 1991, Tirana passou por um período de declínio arquitectónico no qual foram construídos imensos apartamentos massivos de estilo Soviético, ao mesmo tempo que também eram construídas unidades fabris localizadas muito próximas do centro da cidade, ao mesmo tempo que a Praça Skanderbeg, a maior e mais bonita da cidade era redesenhada de uma forma que obrigou á demolição de vários edifícios.

Interior do teatro nacional de Tirana (esq) Fachada do edifício do Museu de História Nacional (dta)

As alterações efectuadas pelos Comunistas a nível arquitectónico contemplaram a destruição de vários sítios emblemáticos durante o domínio Otomano da cidade como o antigo bazaar e a Catedral Ortodoxa, que deram lugar ao Palácio da Cultura, um enorme edifício de estilo Soviético. E nem algumas construções feitas durante o período de ocupação Italiana, muito recentes à época, acabaram por resistir, como o edifício da Câmara Municipal e o edifício do Parlamento da Albânia que acabaram por ser demolidos de forma a permitirem a construção do Museu de História Nacional, e de um Teatro, nos seus respectivos lugares.
Estátuas dos proeminentes líderes comunistas Lenine e Estaline foram colocadas em dois diferentes da cidade, um das ruas chamada avenida Estaline. Também foi colocada uma estátua enorme de Enver Hoxha na Praça Skanderbeg.
 

Estátuas de Lenine e de Estaline - Já retiradas do jardim público onde se encontravam foram armazenadas nas traseiras da galeria de arte nacional, mas podem ainda ser vistas por quem assim o desejar (ambas as fotografias)

Durante o período de regime Comunista Tirana era uma cidade muito fechada e por isso pouco visitada por pessoas de outros países. Contudo antes de o governo submeter o país a uma política de isolacionismo extremo, a cidade chegou a ser visitada por alguma personalidades importantes ligadas ao Comunismo, como o antigo Secretário Geral da URSS Nikita Khrushchev, o antigo Primeiro-Ministro da República Popular da China Zhou Enlai, e também pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Democrática Alemã Oskar Fischer.

Alguns dos ínumeros bunkers comunistas espalhados pela cidade (ambas as fotos)

Após a morte de Enver Hoxha, em 1985, foi construído um mausoléu e memorial em sua honra em forma de  pirâmide de enormes dimensões. Ramiz Alia ainda substituiu o antigo líder, no entanto o regime duraria apenas mais sete anos dado a crescente contestação na cidade ao regime e a reivindicação de maior liberdade principalmente em termos políticos.
 
O antigo mausóleu de Enver Hoxha foi convertido numa discoteca depois do fim do regime, 
hoje encontra-se encerrado e em avançado estado de degradaçao

Contudo o fim do regime não se revelou positivo a nível arquitectónico para a cidade, bem como o seu início. Desde 1991, ano em que terminou o regime Comunista, até ao final dos anos 1990, o grande aumento populacional na cidade levou a que o seu desenvolvimento urbano fosse tremendamente negativo. Muitos dos antigos espaços públicos tornaram-se terrenos de construção, mesmo quando estes se situavam entre dois edifícios, e formaram-se também enorme bairros clandestinos à volta da cidade, numa parte da cidade que hoje é conhecida como Tirana informal.

A Tirana informal situa-se para lá da linha do caminho-de-ferro fora dos antigos limites da cidade (ambas as fotos)

As mudanças operadas no sistema político do país, que passou de uma economia centralizada e planificada para uma economia de mercado, tiveram obviamente um claro impacto na sua capital. E como maior exemplo pode citar-se o fim da proibição da posse de automóveis privados em vigor durante o regime de Hoxha que gerou um aumento sem precedentes no que concerne ao trânsito automóvel que acabaria por ter uma repercussão enormemente negativa na cidade desde o danificar das poucas estradas existentes, e o gerar de lama e outros resíduos, além de muito pó nas ruas não alcatroadas da cidade, facto que tornou Tirana numa cidade imensamente poluída.
O caos do transito automóvel em Tirana é uma realidade em todas as ruas da cidade (ambas as fotos)

Foi porém no período pós comunista, entre 1992 e 1996, que se operaram mudanças que moldam directamente ainda hoje a vida dos habitantes de Tirana. Todos os antigos apartamentos públicos foram privatizados, foram introduzidos mais transportes públicos na cidade de acordo com o aumento populacional registado, e foram construídos sistemas modernos de telefone, de água bem como de electricidade.
A estação de Tirana encontra-se muito degradada e existem já muito poucas ligaçoes ferroviárias activas

A eleição de Edi Rama como Presidente da Câmara Municipal de Tirana, no ano 2000, foi decisiva para a Tirana que é possível ver-se hoje. Rama fez reformas radicais na cidade que resultaram na demolição de inúmeras estruturas construídas ilegalmente desde o fim do regime, algumas delas bem próximas do centro da cidade, nas margens do rio Lana. A política de Rama mais visível para um visitante da cidade, que não se apercebe por exemplo da privatização de alguns transportes públicos, são as pinturas coloridas das antigas fachadas cinzentas dos grandes blocos de apartamentos comunistas.

O caos do transito automóvel em Tirana é uma realidade em todas as ruas da cidade (ambas as fotos)

As áreas públicas de lazer, antigos parques, também ocupadas por estruturas ilegais voltaram também à normalidade após a demolição da construção ilegal em alguns casos, e da reconstrução ou remodelação destas áreas de lazer deixadas ao abandono após o fim do regime. 

Área de Tajvan construída por Rama (esq) Reabilitação das margens do Lana após a demolição das casas clandestinas (dta)

Existem, contudo, criticas  de que o caos de construção em Tirana continua sendo que casas antigas bem como áreas verdes estão a ser destruídas de forma a dar lugar a grandes e modernos edifícios que continuam a por em causa os espaços públicos no centro da cidade.
 
Exemplo de construção selvagem em Tirana - O túmulo de Kaplan Pasha que governou Tirana no princípio do século XIX data de 1817, e encontra-se agora debaixo de uma cúpula de betão armado parte de um edifício de grandes dimensões ali construído. Apesar de ainda fazer parte dos folhetos turísticos, para visitar o monumento tive de deslocar-me dentro da obra e para grande espanto dos operários pedir se podia visitar o túmulo. Responderam-me que sim e deram-me um capacete para que o colocasse de forma a ir em segurança.


Tirana continua o seu desenvolvimento de forma a tornar-se uma cidade europeia. Há no entanto ainda muito trabalho a efectuar, quer no que concerne á construção de novas infraestruturas, quer à remodelação ou reconstrução de infraestruturas existentes. Deverá ser feita uma escolha sobre o padrão a seguir, devendo-se no entanto conservar as infraestruturas comunistas, que fazem parte da história do país, mesmo que se queira começar tudo de raiz devido ao florescente negócio da construção. Mas parece-me que essa escolha não está a ser feita da melhor forma visto os edifícios antigos da cidade, estarem ao abandono e por isso em crescente estado de degradação.


Tirana é uma cidade em busca de uma identidade europeia após muitos anos isolada da Europa


Diário de Viagem


Acabei por viver dez meses em Tirana integrado num projecto europeu de voluntariado numa escola de ensino especial nesta cidade. O projecto de que fiz parte era monitorizado por uma Associação Não Governamental sediada em Tirana, embora fosse directamente financiado por fundos da Comissão Europeia. 

O projecto incluía trabalho diário numa escola de ensino especial de Tirana

Durante o meu tempo de permanência na Albânia aproveitei para viajar aos fins de semana dentro do país, e sempre que consegui ter alguns dias livres, para sair do país, rumo aos países vizinhos. No entanto a maior parte do tempo que passe na Albânia foi obviamente passado nesta fascinante cidade cheia de vida. 
 
 
As ruas de Tirana são desde manha até ao fim da tarde um festival de cores, vozes e vida
 
Lembro-me que ao principio, não achei a cidade bonita mas fiquei fascinado pela quantidade de mercados ao longo das ruas da cidade e principalmente pela enorme simpatia das pessoas.

                                        Existem inúmeros mercados espalhados pelas ruas da cidade

A maior e mais emblemática praça da cidade, a Praça Skanderbeg, estava ainda em obras de remodelação quando me mudei para Tirana. Obras essas que já decorriam há mais de um ano, e que foram concluídas cerca de dois meses depois de eu me ter mudado para a cidade.

                                        Existem inúmeros mercados espalhados pelas ruas da cidade 

Uma das coisas que mais me surpreendeu é os sintomas de pós-comunismo que ainda estão fortemente activos na cidade, e que levam os jovens que não viveram a época de comunismo, mesmo assim a culpar o antigo regime pelo pouco desenvolvimento e relativo atraso do país.
 
Contemporâneos grafittis ainda invocam o ditador comunista (esq) bunkers comunistas encontram-se por toda a cidade (dta)

Tirana é uma cidade que apesar de ser muito poluída tem ainda muitos dos espaços verdes comunitários que herdou do regime comunista, como o grande parque do lago artificial.

                                        Lago de Tajvan, bem no centro da cidade, e o seu parque anexo.
                                   Liqeni Artificial - O lago artificial, inserido no maior parque verde da cidade

Existem no entanto situações que dão excelentes fotografias e que mostram para mim, melhor do que as palavras, o que é o dia-a-dia da desconcertante, poluída e caótica cidade de Tirana.

Tirana torna-se uma cidade especial pela sua desorganização com a que os albaneses parecem não ter problemas em conviver


 Como Chegar


Existem duas formas de chegar a Tirana, que são através de autocarro ou através de avião. No aeroporto internacional de Tirana Nene Tereza aterram voos oriundos de algumas cidades da Europa, sendo as proveniencias mais comuns, a Itália, Áustria e Alemanha, onde reside uma grande comunidade albanesa. No entanto não é barato chegar até Tirana de avião, não havendo companhias aéreas lowcost a voar para a Albânia nem para qualquer país vizinho, à excepção da Grécia, para onde não compensa voar devido á ligação terrestre entre Grécia e Albânia ser cara, e de muito longa duração.
 Nao existe um terminal de autocarros em Tirana, parando estes em diferentes locais conforme o seu destino ou origem
 
De autocarro pode chegar-se à capital da Albânia através de várias outras capitais de países dos Balcãs - Pristina, no Kosovo (16 euros), Skopje, na Antiga Repúlica Jugoslava da Macedónia (20 euros), Atenas (40 euros), e até de Istambul (50 euros). Existem também autocarros provenientes de outras cidades de todos estes países, bem como autocarros de longo curso provenientes de Itália e da Alemanha.